As grandes histórias em quadrinhos como Watchmen e Cavaleiro das Trevas têm a fama de revolucionarem os quadrinhos de super herói, e de fato fizeram isto. Mas cá para nós, eles tiveram certas facilitações. A primeira coisa que podemos apontar é o formato de graphic novel, que pode criar um universo novo, ignorar cronologia de um personagem famoso e ter mais liberdade editorial.  Dar liberdade para os criadores é o grande diferencial para aflorar uma história revolucionária. Enquanto isso, nas revistas mensais, a coisa é diferente. Os criadores não podem alterar muito um personagem e respeitar anos de cronologia. Então fazer algo revolucionário dentro deste meio é muito mais difícil, já que existem mais obstáculos. Admirar Frank Miller, Alan Moore e outros é sempre válido, mas temos que ter em mente que eles só chegaram onde chegaram por que já havia todo uma mídia estabelecida que permitiu que esses gênios fizessem o que fizeram. Nesta lista eu coloquei dez revistas mensais que quebraram paradigmas. Então, ficaram de fora graphic novels, edições especiais e outras coisas que fogem desse modelo de revista mensal.

Action Comics 1 (1938) /DC Comics

Aqui nasce o Superman, o primeiro super herói do mundo. Aqui nasce todo esse gênero que amamos e provavelmente a HQ mais importante de todos os tempos.  Aqui vemos um Superman que é bem mais violento e com uma origem esquisita no que se refere ao seu planeta natal. Na verdade o Fantasma é considerado o primeiro herói mascarado (lançado em 1936), mas não um super herói. Seria impossível não colocar a revista mensal mais valiosa do mundo nesta lista, pois sem ela não existiria nada.  É material obrigatório para qualquer um que goste de quadrinhos, gostem de super heróis ou não, pois aqui nascia um dos personagens mais relevantes do século XX.

Detective Comics 38 (1940) / DC Comics

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Aqui temos a primeira aparição do Robin, que surge para suavizar as histórias violentas do Batman. “Mas Raul o que um menino de short verde colado tem de revolucionário?”. Colocar uma criança ao lado de um super herói era algo novo, pois na mente dos editores isso seria um elemento de conexão entre a criança, que lia, com o personagem jovem. Robin foi responsável por uma onda do conceito de ajudantes ou “sidekicks” e todos os heróis da época tiveram algo semelhante. Hoje se critica muito a ideia de Batman andar com uma criança em sua luta contra o crime, mas tal ideia ajudou, e muito, a popularizar a HQ do Morcego. Hoje o conceito do ajudante é extremamente difundido neste universo, por mais que tenha caído em desuso, mas Robin é parte integral da mitologia do Batman e a enriqueceu demais.

All- Star Comics 3 (1940)/ DC Comics

Aqui temos a primeira reunião de super heróis. A Sociedade da Justiça surgiu muito antes da Liga, somente com heróis pouco conhecidos que foram obtidos de outras editoras menores. A ideia de reunir vários personagens desses virou regra e obsessão onde o conceito de universo compartilhado virou regra inquebrável, e se mantém assim até hoje.  “Por que comprar uma revista com um herói se é possível comprar com vários?” pensavam os leitores.  A Liga da Justiça surgiu diretamente desse conceito e tinha como objetivo levantar outros personagens como Flash e Lanterna Verde, os colocando ao lado de Batman e Superman.

All-Star Comics 8 (1941) n° 8/ DC Comics

Aqui nasce a Mulher Maravilha, a primeira super heroína. Falamos muito dela aqui onde você pode pegar boas dicas de obras para conhecê-la. Está nessa lista por colocar a mulher como protagonista neste mundo dos super-heróis e até hoje é tida como a super-heroína mais relevante e conhecida do mundo. O triste é que mesmo com décadas de histórias, e uma revista mensal longeva, ela pouco se beneficiou das melhores mentes dos quadrinhos. Sempre foi maltratada pela DC. Até hoje, encontrar um bom número de super heroínas relevantes é difícil, o que é muito triste.

The Flash 123 (1961) / Dc Comics

Durante anos a DC foi comprando outras editoras e anexando os personagens em seu selo. O problema é que isso gerava uma confusão e a maioria das revistas mensais tinha uma cronologia extremante bagunçada. Superman existia em diversas terras e alguns personagens tinham mais de uma versão, Flash era um desses, assim como o Lanterna Verde. Nesta edição temos a primeira menção ao multiverso e a explicação que todos esses personagens viviam em realidades diferentes. O conceito de universo paralelo virou um dos mais utilizados e modificou toda a DC e futuramente a Marvel. Só de imaginar quantas mega sagas a DC fez em cima deste conceito e pensar que tudo começou com o encontro dos dois Flashs.

Fantastic Four (1961) n° 1/ Marvel

Por vários motivos podemos dizer que esta é uma das primeiras desconstruções de super heróis. Uma família disfuncional onde um dos integrantes era uma figura trágica e deformada. O conceito de grupo de exploradores não era novidade, mas as formas como eles se transformaram em super heróis mudaram tudo, além de trazer humanidade para personagens com super poderes. Até então o padrão estabelecido pela DC eram de personagens perfeitos e com poucos problemas além daqueles causados pelos vilões. Marvel trás um novo padrão que mudou para sempre a mídia e esse padrão surgiu com Quarteto Fantástico.

Fantastic Four 52 (1966)/ Marvel

Aqui surge Pantera Negra pela primeira vez, o primeiro personagem negro dos quadrinhos. Assim como Mulher Maravilha ele é um pioneiro que ganhou seu espaço no mundo Marvel, e no nosso, abrindo caminho para todos os outros personagens negros que vieram depois. Após sua participação secundaria nesta edição ele ganhou revista própria, mas sempre foi colocado um tanto de lado por sua editora.

Green Lantern 76 (1970) / DC Comics

Aqui começa a jornada de Lanterna Verde e Arqueiro Verde pelos Estados Unidos lidando com todos os tipos de problemas sociais como preconceito, pobreza, destruição da natureza e tudo mais. Ao longo desta revista mensal a realidade só vai se solidificando em torno dos personagens a ponto de Ricardito, ajudante mirim do Arqueiro, se viciar em heroína. Agora suba a lista de novo e veja a revista em que Robin surge e reflita sobre toda a mudança que a mídia sofreu para chegar a esse momento. Aqui a inocência estava enterrada a sete palmos. Assim começa a fase de bronze dos quadrinhos e a vida real e a morte seria cada vez mais presente no mundo dos super heróis.

Superman: The Man of Steel (1992) n° 18/ Dc Comics

Caso tenha sido o Superman que começou tudo, foi sua morte que terminou a Era de Bronze e iniciou a sombria era que seriam os anos 90 para as HQ’s de super herói. O primeiro super herói do mundo é morto numa saga de qualidade duvidosa, mas que ascendeu a imprensa mundial para esse evento histórico. Uma das maiores jogadas editorias e de propaganda deste meio, e que de certa forma banalizou a morte nos quadrinhos. Depois que Superman voltou desta saga, se tornou comum matar e logo em seguida reviver uma série de personagens.  De modo geral todos os grandes personagens já experimentaram o doce beijo da morte.

X-Men 1 (1991)/ Marvel

A revista dos mutantes já estava mais do que consolidada e os personagens inseridos no imaginário popular. Esta edição não está nesta lista por sua qualidade ou inovação de conceitos, mas sim pelos efeitos econômicos que causaram. Esta edição saiu com cinco capas diferentes que ao se juntarem formavam uma imagem única, desenhada pelo nome mais cultuado da época Jim Lee. Está foi a HQ mais vendida do século passado e gerou uma inflação absurda, pois as pessoas passaram a comprar revistas com a expectativa por vendê-las por uma fortuna no futuro. Tal ideia já vinha com os valores astronômicos das revistas da era de ouro e pela morte do Superman que já havia iniciado essa cultura. Esta nova fase dos X-Men elevou essa ideia ao inimaginável e outras revistas começaram a sofrer dessa inflação com as pessoas compravam a mesma edição varias vezes pensando em revendê-las, mas não havia ninguém para comprar. Essas gigantescas vendas eram ilusórias. Não eram oito milhões de pessoas lendo as aventuras dos mutantes, e sim o mesmo número de sempre que estava comprando a mesma edição várias vezes.  As duas editoras quase faliram no final dos anos 90 e muito da culpa veio deste processo de inflação de revistas que não se revendiam e passavam a encalhar e o abandono dos fãs depois que perceberam que não ficariam ricos revendendo HQ’s.


Minha lista pode estar equivocada em diversos aspectos, e pode haver revistas mensais que foram mais revolucionárias e relevantes dos que as que estão aqui. Talvez tenha sido movido por algumas que gosto mais, mas sua função é ir aos comentários e provar que eu estou errado. Talvez faça uma lista com outras mensais revolucionarias que ficaram de fora.  A maioria delas já saiu no Brasil em alguma republicação e outras podem ser achadas gratuitamente na Internet (as mais antigas).

 

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Raul Martins

Autor dos livros Cabeça do Embaixador e Onde os sonhos se realizam

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