O cinema de terror norte americano a algum tempo vem se destacando apenas em pequenos filmes, nada de grandes orçamentos ou grandes trabalhos em computação gráfica. Bons filmes de terror estão sendo feitos a partir de pouca verba. Trey Edwards Shults tem um bom exemplo disso, apesar de seu primeiro longa não ser um do gênero terror, “Krisha” (Filme disponível na netflix, VEJA!) foi feito com incrível valor de trinta mil dólares e teve uma recepção mais do que positiva pelo público e crítica, Trey já demonstrou virtudes interessantes em seu longa de estreia. Em Ao Cair Da Noite ele mais uma vez faz um filme simples em termos de orçamento, simples, porém não simplório.
O filme se inicia com uma cena extremamente pesada, que serve para demonstrar o abalo emocional dos personagens que vamos acompanhar e para evidenciar que vamos ver uma história sobre contaminação e extinção da humanidade. Paul, Sarah e Travis são uma família. Percebemos pela atuação um tanto quanto seca e de aparência cansada dos atores que essa família já vive a algum tempo nesse cenário de desolação, limitados apenas a viver para sobreviver, conceito já estabelecido no clássico livro “Eu sou a Lenda”. Não sabemos nada a respeito do vírus, há apenas um entendimento que ele é transmitido por contato físico simples. Só a ideia de uma família presa em sua própria casa e refém de algo que não sabemos já é aterrorizante, mas a adição de uma família forasteira ao filme aumenta ainda mais esse clima de tensão. A desconfiança começa a pairar por todo o ambiente do filme, e cria-se um clima de tensão muito bem construído.
“Ao Cair da Noite” é um tipo de filme que te vende sensações, que necessita de um clima bem construído e, normalmente, isso acontece quando um roteiro sabe o que fazer com seus personagens. Os diálogos são econômicos, é dito apenas o necessário entre os personagens, essa decisão é uma faca de dois gumes. Por um lado a experiência de ver um filme no qual consegue deixar os maiores medos no imaginário do público é uma decisão acertadíssima, porém existem pontos que precisam de uma referência maior se não a obra acaba perdendo um pouco de sentido narrativo. Ocultar uma criatura é aceitável, mas deixar de nos mostrar uma situação que iria justificar atitudes dos personagens acaba sendo um desprendimento um pouco exagerado. Esse tipo de situação acaba deixando as pessoas com uma má impressão do restante do longa, ignorando a construção de clímax bem feita pelo diretor do filme.
Falando em diretor, Trey Edwards já mostra em seu segundo filme o controle que possui por sua obra, que por sinal também roteiriza. A forma como ele cria a tensão e vai te induzindo a ter os sentimentos que os seus personagens estão tendo é primorosa, sua veia para o terror/suspense psicológico foi evidenciada e condecorada com sucesso. Soube usar as suas referências para o gênero de sobrevivência de uma forma notável, mas exagerou quando falamos de deixar soluções da trama subentendidas. Como falamos apenas de seu segundo longa na carreira e de um diretor que possui menos de trinta anos, da para ter a certeza que veremos mais coisas boas partindo dele num futuro próximo.
Se podemos ter uma certeza sobre o filme é que ele não se trata de uma obra comum, é autoral e por vezes bem pessoal. É uma obra que em seu todo tem muito que dizer, o silêncio de suas passagens são reflexivos no sentido da natureza humana e seus limites em uma situação de estresse absoluto. Será um filme amado e odiado, mas, sem dúvida alguma, é um filme que possui muito significado.