Como muitos devem saber, o seriado de televisão do Batman de 1960 foi um sucesso e marcou toda uma geração consolidando a mitologia do Homem Morcego no imaginário popular. Se hoje o símbolo do morcego é conhecido em todos os cantos do mundo, parte da culpa vem deste programa de TV. Depois dos filmes de Tim Burton, o visual e estilo do seriado foi cada vez sumindo até se tornar uma espécie de piada distante. Joel Schumacher tentou retornar parte do humor do antigo programa, mas fracassou completamente e a piada foi só aumentando. Finalmente chegou o filme do Nolan consolidando Batman sério e sombrio fora dos quadrinhos. Sabemos desde os anos 80 que esse Batman já existia e era aclamado nas HQ’s, mas fora dos quadrinhos a ideia do Morcego de Gotham era bem mais bagunçada.

Hoje em dia a série é lembrada com saudosismo e o humor que ela usava é melhor entendido. Vendo um gif de Adam West dançando ou surfando com o Coringa deve ser difícil entender quem diz que tal série era boa. O programa não levava a sério o conceito de um ricaço combatendo o crime e seu parceiro mirim adotado. Sabendo do ridículo da ideia, a série era a primeira a fazer piada com isto e com os absurdos dos quadrinhos dos anos 50 da DC. Se hoje vemos diversas tirinhas na internet zoando o personagem, esse programa já fazia tudo isso de forma hilária já naquela época.

Tendo em vista esse contexto podemos fazer a crítica da animação da DC que remonta todo o universo do programa de TV, como se fosse um episódio estendido (ou um dos filmes que eles fizeram na época). Não é a toa que Adam West (Batman), Burt Ward (Robin) e Julie Newmar (Mulher Gato) voltam para seus papéis originais, só que dessa vez na dublagem. Já na entrada dos créditos o verdadeiro fã de quadrinhos é agraciado com uma animação que remonta diversas capas clássicas das edições de Batman.

Nas primeiras cenas, onde estamos na mansão Wayne, já somos agraciados por uma série de piadas onde Robin dança balé e Tia Harriet (a governanta da casa) fazendo diversas piadas com a possibilidade de Grayson e Bruce formarem um casal. O plot desta animação é impedir os vilões clássicos (Coringa, Charada, Pinguim e Mulher Gato) de duplicarem a Terra para cada um ter sua própria cidade para governar.

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A animação é muito inteligente em saber que pode ousar em locações e situações que o orçamento limitado da série jamais permitiria. O humor do texto também está ótimo, pois consegue fazer menções diretas ao programa de onde saiu, e ao personagem Batman como um todo. Até mesmo um fã de quadrinhos, que nunca viu a série, pode apreciar essa brincadeira com um personagem tão soturno e dramático. Caso possamos apontar um defeito da animação, é uma trama um tanto “desenhado animado demais”. Conceitualmente ela é muito boa já que mexe diretamente com o contraste de um Batman cada vez mais sério e controlador (que temos hoje) com o divertido e bom moço dos anos 60. Mas como isso é feito, fica um pouco além da conta até mesmo para esse estilo. Não irei explicar muito, pois bem ou mal, temos diversas reviravoltas divertidas que prendem a atenção e explicá-las aqui tiraria muita graça.

As lutas também se baseiam muito em como eram feitas nos episódios e isso foi uma das poucas coisas que julguei não necessárias de serem transplantadas para essa mídia. Obviamente que seria necessário ter as onomatopeias clássicas, mas os movimentos dos personagens emulam muito humanos normais e fica muito estranho em constaste com a trama cartunesca e o visual cômico. Uma das poucas coisas que poderiam ser alteradas para aproveitar as possibilidades que a animação permite.

É bom saber que aquele Batman cômico ainda tem algo interessante a dizer.  Por que cultuamos tanto esse Batman cada vez mais violento e que tem um plano para derrotar todos os seus amigos? Conforme ele vai ficando cada vez mais realista fica mais difícil colocá-lo no espectro do herói, enquanto ridicularizamos o Batman cômico, porém genuinamente heroico. Obviamente que estamos falando de uma história muito inocente, mas a animação tem consciência disso e é a primeira a apontar e fazer piada.

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Raul Martins

Autor dos livros Cabeça do Embaixador e Onde os sonhos se realizam

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