Existe todo um subgênero de filmes adolescentes e infantis que mostram uma jornada de crescimento e a chegada da vida adulta. Alguns são dramas complexos e outros são comédias escrachadas e do mais puro pastelão. Nesta última categoria temos alguns exemplos famosos como a franquia American Pie e o excelente Superbad. O filme Bons Meninos se propõe em pegar o humor ácido destes outros filmes e colocar num contexto mais infantil, na faixa dos 12 e 13 anos.

Três amigos enxergam a chance de beijar pela primeira vez numa festa que os “garotos descolados” vão fazer naquela noite. Com o intuito de se prepararem para o evento acabam gerando uma série de trapalhadas que rendem uma jornada épica em 24 horas onde coisas absurdas acontecem.

A primeira coisa que chama atenção é como os jovens protagonistas são retratados. Todos são bem jovens e ainda preservam muito do visual infantil, mas falam diversos palavrões assim como vemos nas crianças da primeira parte de It. Entretanto todos eles ainda preservam bastante da inocência infantil típica dessa transição. Os três atores são bem competentes o que é fundamental para esse filme.

O roteiro é assinado por Gene Stupnitsky e Lee Eisenberg, ambos com experiência em escrever comédias, apesar da maioria não ser de grande expressão e qualidade. Agora eles melhoram o nível com esse filme interessante. Stupnitsky também estreia como diretor de um longa nessa produção. De modo geral todo o ar pastelão e “besteirol americano” é bastante presente no filme todo, mas não se ressume a isso. Da metade para o final um surpreendente tom comovente aparece e mostra um lado verdadeiramente profundo sobre o amadurecimento e a saída da infância para a adolescência. Uma história que começa de forma tão simples, e até boba, acaba te pegando pelo coração no fim.

Mas infelizmente como comédia, que é seu objetivo principal, nem sempre funciona. Muitas piadas se baseiam em colocar crianças em situações adultas como venda de drogas e coisas do tipo. Isso às vezes dá certo, mas na maior parte do tempo fica óbvio e até repetitivo. De modo geral esse filme é quase uma versão mais juvenil de Superbad. Os dois longas possuem a mesma estrutura de roteiro. Um grupo de jovens, que estão num período de transição, entram numa jornada de um dia para terminar numa festa que mudara suas vidas. Mas o problema é que nesse filme a jornada do início/meio do filme é um tanto chata e parece não ter muito propósito na maior parte do tempo.

Parece que os próprios roteiristas não perceberam que o coração dessa história estava na interação dos três protagonistas e só se deram conta disso da metade para o fim. Existe certa obviedade em todos os acontecimentos o que tira parte da graça da aventura e do próprio humor, já que ele se baseia na quebra de expectativa.

Outro problema é o próprio tom do filme. Às vezes parece que essa história se propunha a ser um filme para personagens com 17 anos ou mais, mas foi modificada para personagens com 12. Isso se dá pela forma que alguns falam e se comportam, oscilando entre muita maturidade e muita infantilidade. A própria realidade se modifica, às vezes parecendo o mundo real e às vezes soando como um desenho animado adulto.

Mas apesar de todos os problemas existe algo de interessante em Bons Meninos. É fácil ver um grupo de garotos da mesma faixa etária dos protagonistas assistindo esse filme e se identificando e rindo loucamente. Também tem o poder, nos mais velhos, de nos fazer lembrar dessa época e de como nossos medos e inseguranças eram bobos quando olhamos para trás. Também consegue mostrar a amizade de uma forma bem tocante, voltando a fazer um paralelo com o fim de Superbad, que também tem uma visão muito linda sobre a relação de dois adolescentes que enxergam a amizade num período de transição.

Bons Garotos deve ser cada vez mais engraçado quanto mais novo você o assiste, e certamente sua qualidade é potencializada quando se assiste com os amigos.

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Raul Martins

Autor dos livros Cabeça do Embaixador e Onde os sonhos se realizam

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