Bem, aqui nasce uma nova coluna dentro do Tarja Nerd. Por algum motivo louco, Daniel me deixou escrever aqui dentro. O que eu fiz com esse poder? Criei uma área só para falar de filmes antigos que ninguém se importa mais, ou se quer se lembram mais. No meio deste site cheio de noticiais de última hora, aqui será um recanto para as velharias. Uma espécie de antiquário do cinema e eu sou o cara atrás do balcão que vai tirar os rolos de filme do baú. Continue lendo, pare e assopre a poeira de Disque M para Matar.

Alfred Hitchcock além de ser um diretor cultuado, acabou virando objeto de estudo para todos aqueles que desejam entender o cinema mais profundamente, principalmente no que diz respeito a construção de roteiro. Em muitos dos seus escritos e entrevistas ele acabou formulando regras básicas para se contar uma história na tela e “Disque M para matar” é um de seus longas que é uma aula de roteiro e direção simples porém eficiente. Hitchcock prova que a coisa mais importante de um filme, como ele mesmo diz, é “Faça seu público sofrer ao máximo possível”. Este filme é uma prova viva deste conceito.

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Vamos a uma sinopse rápida. Tony Wendice (Ray Milland) descobre que sua esposa Margot (Grace Kelly) está o traindo e arquiteta um plano para matá-la e ter sua vingança. Toda a trama do filme são planos em cima de planos conforme os primeiros vão dando errado. Em termos de cenários e cortes de cenas, o filme é extremamente simples. Fica claro que a história sobrevive na tela somente por seu próprio mérito e pela atuação dos bons atores. Cada detalhe importa e você deve observar a trama com o máximo de atenção, o que não é uma tarefa difícil, pois em termos de ritmo o longa é impecável. Mesmo sendo filmado em 1954 a velocidade é surpreendentemente atual: Diálogos ágeis, desenrolar ágil e tensão nas alturas no melhor estilo de Alfred Hitchcock (O mestre do Suspense). Sem dúvida um dos seus melhores filmes de investigação e suspense, o que é surpreendente quando se trata de Hitchcock que possui 69 filmes no seu currículo de diretor.

Para todos que desejam aprender um pouco mais de construção de roteiro precisam ver esse filme. Uma boa ideia de história sendo construída na sua frente cena por cena, fala por fala, e ainda por cima mantendo uma simplicidade, provando que não é preciso revolucionar o cinema para se fazer um bom filme. Às vezes o menos, bem feito, vale mais. Também é ótimo para aprender como capturar seu público e mantê-lo preso na cadeira até o final, coisa difícil de se aprender a fazer quando o roteiro está só no papel, sem necessariamente um enquadramento ou trilha sonora.

Nesse caso específico do roteiro os créditos não devem ir somente para Hitchock, o diretor merece palmas pela sua direção e adaptação, mas a história em si é escrita por Frederick Knott, que originalmente a fez no formato de uma peça de teatro. Tendo essa informação e assistindo o filme é possível perceber isso. O uso de poucas locações, cenas com poucos cortes e um número um tanto reduzido de personagens deixa o filme com uma cara de peça de teatro. Outros filmes de Hitchock tem essa característica “teatral” como Festim Diabólico, talvez um dia falaremos dele aqui.

Diferente da maioria dos filmes clássicos este é até curto com um hora e quarenta e cinco minutos, que passam voando. Acho que é um bom começo para essa coluna que trará muitos filmes onde a duração e o ritmo podem desmotivar os que não estão acostumados com longa-metragens mais antigos. Disque M para Matar é um filme relativamente fácil de se assistir desde que você não o veja mexendo no celular, pois trata-se de investigação e formulação de planos, ou seja, cada detalhe importa.

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Raul Martins

Autor dos livros Cabeça do Embaixador e Onde os sonhos se realizam

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