Desde o início do universo cinematográfico da DC muito se questionava a organização e algumas escolhas feitas para compor o mundo dos heróis mais clássicos da terra. Homem de Aço é um filme questionável, Batman VS Superman rachou opiniões, Esquadrão Suicida foi um fracasso de crítica, mas parece ter algum nível de apoio de fãs fiéis, e Mulher Maravilha foi o único acerto de mão cheia. Tudo isto culminou neste filme da Liga da Justiça que simboliza o “vai ou racha” para este universo compartilhado.

Batman e Mulher Maravilha percebem que a Terra está em vias de ser invadida, e para criar uma contingência eles decidem reunir um grupo de seres poderosos. Assim se inicia uma corrida pelas Caixas Maternas na tentativa de salvar o planeta.

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O mais engraçado deste filme é que ele tem bastante da estética do Zack Snyder, mas em conteúdo parece fazer de tudo para se distanciar dos anteriores. Uma coisa fica clara neste longa: eles fizeram de tudo para se afastar do estilo sombrio e pseudo profundo de Batman VS Superman. Toda a temática da história é centrada na esperança e no otimismo que ela traz. O conceito da Liga como um panteão de deuses na terra é usado sem medo e finalmente vemos a diversão e aventura que um filme de grupo de super heróis precisa. É algo que fará o adulto sorrir e a criança vibrar.

Aqueles que defendiam com unhas e dentes a proposta dos filmes anteriores pode se decepcionar. De certa forma o filme da Liga se rende a algumas fórmulas e conceitos estabelecidos pelos filmes da Marvel nos quase dez anos de produções. Mas, ao mesmo tempo, ele tem uma cara bastante própria e, de certa forma, mais épica do que outros filmes de grupo. Prepare-se para piadas, não tantas como vemos nos últimos filmes de heróis, mas elas estão lá. Às vezes funcionam e às vezes não. Quanto mais você ignorar os outros filmes (exceto Mulher Maravilha) melhor este fica. Na verdade parece que o próprio roteiro faz isso às vezes. O tempo todo é afirmado que Superman era o herói mais universalmente amado da Terra e Batman se refere a ele como se nunca tivesse chegado a um triz de matá-lo. Parece que estamos vendo um universo paralelo onde Batman VS Superman não aconteceu da forma que vimos. Algo que atrapalha a ideia de sequencia e universo compartilhado, mas que funciona para esse filme.

Isso nos leva para dois personagens: Flash e Aquaman. Ambos são utilizados dentro da estrutura de roteiro como alívios cômicos, o que faz bastante sentido já que de um lado temos um herói bastante jovem e do outro um personagem conhecido por ser uma piada na cultura pop. O problema é que eles acabam sendo reduzidos a isso, em termos de personalidade. É muito difícil vê-los falando qualquer coisa que não seja uma piada ou uma quebra de tensão, coisa que às vezes funciona e outras não. Especialmente as piadas do Flash, que acabam se estendendo mais do que deveriam em algumas cenas. Se você é do tipo de pessoa que reclama de excesso de piadas em um filme que não seja de comédia, talvez isso seja o que mais te incomodará.

Batman e Mulher Maravilha também têm momentos cômicos, mas eles são muito mais discretos, contidos e sutis, algo que combina bastante com os personagens, na verdade a figura de Batman/Bruce está muito mais interessante. O personagem possui mais nuances além de ser sombrio e estar mal encarado o tempo todo. É um Batman que combina com a proposta de um grupo de heróis que enfrenta uma ameaça alienígena. Ciborgue está interessante e muito bem inserido no roteiro, compondo o grupo de forma interessante, pois não parte para nenhum exagero para se destacar ou marcar presença. Os diálogos entre eles são incrivelmente bons para o padrão filmes de super heróis; hora são engraçados, tensos e até reflexivos sobre suas condições.

O roteiro é básico e isso é ótimo para este filme. Além de ter que resolver diversas questões deixadas pelos longas anteriores, Liga da Justiça precisa efetivamente apresentar três novos heróis, além das motivações do vilão. Apesar desse excesso de obrigações, o ritmo até que se sai bem. O filme tem pequenos probleminhas de cortes abruptos, closes em elementos que deviam ter significado, mas provavelmente ficaram na sala de edição e coisas do gênero. Por vezes é possível perceber que uma cena acaba um pouco antes do que o normal. Detalhes do tipo “como eles chegaram ali?”, “mas como ele sabia disso?” e esses pequenos pontos de conexão de uma cena para outra às vezes deixam a desejar, mas a diversão e a aventura desvia nossa atenção e preenche essas lacunas.

Como já disse o filme tem muita “cara” de Snyder e foi muito comentado sobre as refilmagens feitas por Joss Whedon, mas na verdade o que mais fica evidente são suas alterações no jeito dos personagens se portarem e falarem. O tom mais leve e como ele se apresenta é bem o estilo do ex-diretor de Vingadores, além de não ter medo de mostrar heróis em sua forma mais ingênua e singela, sem medo de soar ridículos; e sendo bastante bem sucedido no processo. Era justamente isso que faltava nos filmes recentes da DC (exceto no da Mulher Maravilha).  

O vilão Lobo da Estepe e suas ambições são as mais clássicas possíveis. É totalmente eficiente em criar uma dificuldade para os heróis e gerar uma sensação de perigo iminente. Talvez ele não seja lembrado por uma falta de personalidade, mas não deixa a desejar. As cenas de ação estão ótimas e muito bem servidas. Todos os personagens têm seus momentos de brilhar e existem usos muito criativos de seus poderes, além de um trabalho em equipe eficiente. Só uma cena ou outra não empolga tanto, mas é impressionante o que vemos em tela. São verdadeiros deuses se digladiando de forma inventiva e empolgante.

A partir de agora eu entrarei em pontos do filme que podem ser considerados spoilers para os mais sensíveis. Se esse for o seu caso pule esse próximo parágrafo.

Muito se questionou sobre matar o Superman e como o herói nunca chegou ao seu auge de heroísmo. Aqui ele retorna de forma interessante e finalmente se transforma no ícone de heroísmo como sempre foi dito e mencionado, mas nunca efetivamente mostrado. Apesar do pouco momento de tela, ele brilha com o jeito clássico e sem medo de parecer ingênuo ou simples. Sem problematizações excessivas ou coisas do gênero. Simplesmente o maior herói de todos, na forma mais simples de ser. Finalmente podemos dizer que vemos o verdadeiro Superman neste universo cinematográfico.

Agora podemos contabilizar dois acertos certeiros da DC neste universo e uma possibilidade incrível que vem pela frente. Temos os maiores heróis da Liga estabelecidos de forma convincente e caminhos incrivelmente empolgantes por vir. É bastante importante manter a proposta estabelecida nesse filme e apostar mais no carisma dos personagens e, principalmente, não ter medo de fazer filmes de super-heróis que salvam o mundo e estão felizes com isso.


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Raul Martins

Autor dos livros Cabeça do Embaixador e Onde os sonhos se realizam

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