Esse ano tivemos a adaptação de um dos livros mais icônicos da grande escritora inglesa Agatha Christie: Assassinato no Expresso do Oriente, que se provou um ótimo filme e de certa forma reacendeu o interesse pelos intrincados casos que Agatha escreveu ao logo da vida. Seus 66 romances são um prato cheio para os apaixonados pelo gênero de histórias de detetive. Poirot é um dos seus personagens mais famosos, entretanto ela criou outro detetive icônico, ou melhor, uma detetive. Miss Marple é uma idosa ardilosa que possui uma mente tão astuta que deixaria Sherlock Holmes ruborizado. Aqui segue a resenha de um dos livros onde ela mostra seus incríveis talentos de investigação e que talvez te anime a conhecer o universo desta incrível escritora.

A famosa atriz de cinema Marina Gregg se muda para o vilarejo de Mary Mead. O povo local fica em polvorosa com a ideia de uma celebridade vivendo entre eles. Na festa de recepção da atriz e de seu marido uma morte em circunstâncias misteriosas ocorre, principalmente porque tudo indica que a pessoa que veio a falecer não era o alvo primário de um drink envenenado. Agora uma investigação começa e que acaba revelando muito mais do que se imagina da vida desta celebridade polêmica.

O interessante de livros onde a personagem Miss Marple está é que na maioria das vezes ela não chega a ser a detetive oficial dos casos, e nem mesmo a protagonista no sentido clássico desta palavra. Justamente por ser uma senhora sem credenciais oficias ela não tem permissão para conduzir uma investigação de forma direta. A graça está justamente em como todos os detetives encarregados de solucionar casos nas redondezas recorrem a inteligência dela como auxílio inestimável. Então em boa parte dos livros não a vemos interrogando os suspeitos, uma  das coisas habituais que vemos os detetives fazendo em historias mais clássicas. É justamente esse o caso de A Maldição do Espelho.

O livro foi publicado nos anos 60 quando a própria escritora estava na casa dos setenta e revela muito de como ela se sentia enquanto uma mulher idosa. Miss Marple parece ser a própria Agatha, uma mulher extremamente inteligente, esperta e com um profundo conhecimento da natureza humana, mas que é constantemente menosprezada por ser idosa, mesmo que já tenha provado uma porção de vezes o quão capaz ela é. Marple é uma personagem importantíssima justamente por isso, pois ela acaba funcionando como reflexo de uma das autoras mais importantes do último século, além de ser um dos raros exemplos de personagens idosos que são verdadeiramente relevantes e ativos nas tramas em que estão inseridos.

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O livro demora a engrenar e isso é bastante comum com as tramas que envolvem Marple justamente por sempre se passarem  em um vilarejo pacato da Inglaterra e constantemente retratarem a vida bucólica, tediosa e conservadora que a maioria dos morados possui. Então acabamos caindo em diálogos sobre coisas totalmente desinteressantes vez ou outra. Ao mesmo tempo em que isso nos situa na vibe do local; isso acaba sendo por vezes obstáculos para o que queremos verdadeiramente ler. Passando esse momento inicial caímos num mistério bastante complicado e intrincado, como é a maioria dos casos de Christie. Sempre que você acha que entendeu o caso e como ele se deu, ela acrescenta um novo elemento que coloca em cheque tudo o que você achava que sabia sobre o mistério até então. Ao mesmo tempo ela cria suspeitos tão interessantes e com características tão vivas que acabamos ficando fascinados por eles.

Diferente de Sherlock os detetives de Agatha acabam não sendo tão chamativos e, de modo geral, não exercem aquele magnetismo que faz com que sejam constantemente os protagonistas. Os suspeitos acabam sempre roubando a cena, pois os detetives estão sempre obstinados a entender cada um deles em sua total complexidade e, por consequência, nós leitores acabamos embarcando nesta descoberta. Ler um mistério de Agatha acaba sempre sendo um ato de um bisbilhoteiro. Não queremos só saber quem matou, mas por quê. Queremos saber tudo que for possível destes suspeitos mesmo que não achemos que eles são os culpados. O fascínio pela vida alheia sempre acaba nos fisgando e é o que nós faz virar as páginas sem parar.

O livro tem diversos momentos empolgantes mesmo se baseando quase que totalmente em diálogos. Na verdade ela é a mestre dos diálogos e preenche páginas e mais páginas com eles, construindo quase toda a investigação em cima deles. Um talento raríssimo no mundo da literatura e todos que escrevem almejam escrever conversas tão bem quanto ela. No fim temos uma solução que te faz levantar e bater palmas sozinho. E mais uma vez lembre-se porque ela ganhou a alcunha de Rainha do Crime.

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Raul Martins

Autor dos livros Cabeça do Embaixador e Onde os sonhos se realizam

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