O primeiro filme da Mulher-Maravilha é considerado por muitos como o melhor da tentativa da DC de criar um universo compartilhado nos cinemas. O seu segundo filme foi um dos grandes lançamentos que sofreu com a falta dos cinemas devido à pandemia e houve uma resistência da Warner em lança-lo nos serviços de streming, mas isso acabou se provando inevitável. Agora temos a chance de finalmente ver mais uma aventura da maior super-heroína do mundo.

Como o próprio título já evidencia a trama se passa no ano de 1984 e vemos a heroína atuando de forma escondida e evitando se expor em frente às câmeras durante seu combate ao crime. Enquanto isso ela vive sua vida dupla como Diana e trabalhando num museu na capital dos EUA. Quando um estranho artefato acaba caindo nas mãos de seu departamento uma série de eventos sobrenaturais começam a acontecer. Isso coloca a amazona em rota de colisão com o Maxwell Lord, um magenta sedento por poder, e sua nova amiga Barbara.

Mais uma vez o filme é dirigido por Patty Jenkins, que também trabalhou no roteiro ao lado de Dave Callaham e Geoff Johns, um dos roteiristas mais importantes da história recente da DC. Callaham também tem uma carreira interessante com roteiros como a trilogia dos Mercenários e a versão americana de Godzilla de 2014. Esse mesmo roteirista está cotado para recentes lançamentos como o novo longa de Mortal Kombat, Spider-Man: Into the Spider-Verse 2 e Shang-Chi and the Legend of the Ten Rings.

A direção de Patty Jenkins parece ter melhorado neste segundo filme. As cenas de ação estão mais compreensíveis e bem coreografadas, mas sem perder o encanto e empolgação. Curiosamente temos poucas cenas de ação e um enfoque muito grande em desenvolver todos os personagens da trama, o que acaba se provando um grande acerto. Os personagens possuem histórias e interpretações incríveis e são incrivelmente vivos e críveis mesmo num mundo repleto de magia. O longa consegue ser intimista e épico ao mesmo tempo.

Pedro Pascal faz um vilão perfeito que ao mesmo tempo é um comentário muito interessante sobre líderes e consegue ter seus momentos espalhafatosos dignos de gibis da era de prata. A icônica atriz de comédia Kristen Wiig faz a uma vilã muito icônica da Mulher Maravilha e consegue ir do engraçado ao trágico com perfeição. Esses dois vilões são tudo que um filme de super-herói precisa. Bem fundamentados, carismáticos e ao mesmo tempo exagerados na medida certa.

A dupla Diana e Steve Trevor funciona em sintonia perfeita, agindo ao mesmo tempo como dupla romântica, cômica e de ação. Com esse filme acredito que é seguro dizer que temos um dos melhores casais dos filmes de super-herói da história das adaptações. Existe uma beleza trágica e profunda neste relacionamento muito bem interpretado pelos dois atores.

Esse é um filme de poucos defeitos, por isso vou tentar reuni-los neste único paragrafo. O roteiro apesar de brilhante em diversos momentos dá furos de lógica. Mas ao mesmo tempo tenho a impressão de que estes furos foram por cenas que por algum motivo foram retiradas na edição. É impossível saber se isso é verdade sem uma edição estendida ou tendo acesso ao roteiro original. Mas, apesar disso, a história não fica prejudicada, só alguns buraquinhos numa bela tapeçaria. Os efeitos especiais às vezes podem deixar a desejar, mas Patty Jenkins consegue disfarça-los suficientemente bem para o digital não saltar os olhos, apesar de percebermos que ele está ali em momentos onde isso não deveria acontecer.

Talvez o clímax deste filme também decepcione alguns como aconteceu no primeiro, mas acredito que aqui temos um roteiro que realmente deseja passar uma mensagem. Uma mensagem deliciosamente ingênua e simples, mas ao mesmo tempo poderosa em sua simplicidade verdadeira, traduzindo a essência da personagem. Um filme que mostra ao mundo o que é a Mulher-Maravilha e porque ela é uma das super-heroínas mais icônicas do mundo. Esse é o filme que ela sempre mereceu.

Para mim Patty Jenkins entregou um filme que está do lado de grandes panteões, como as duas primeiras adaptações do Superman e do Homem Aranha. Acredito que em termos de tom e mensagem esses são filmes próximos em diversos aspectos. Não é um filme perfeito, mas ele é tudo o que se propõe a ser com um nível de competência impressionante. Se começar a ver o filme de coração aberto pode sair dele acreditando em laços da verdade e que a grandeza dos super-heróis existe dentro de todos nós.

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Raul Martins

Autor dos livros Cabeça do Embaixador e Onde os sonhos se realizam

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