Suicídio sempre foi um tema delicado em qualquer tipo de produção, seja no cinema, na televisão ou na literatura. Falar sobre isso de maneira que exponha todas as angústias pelas quais a pessoa está passando sem romantizar o ato é uma tarefa árdua. Contudo, Raphael Montes conseguiu fazer isso logo em seu livro de estreia: o chocante e surpreendente Suicidas.

A trama nos apresenta a nove jovens que decidiram acabar com a própria vida participando de uma roleta-russa no porão de uma casa de campo. A ausência aparente de motivos e as circunstâncias perturbadoras da morte de universitários de classe média alta conduz a polícia por uma investigação minuciosa. Um ano após a tragédia, a delegada responsável pelo caso, Diana Guimarães, reúne as mães dos suicidas para que juntas possam obter algumas respostas. Mas essa reunião revelará detalhes macabros do que realmente aconteceu naquele porão.

A história é contada através de três linhas narrativas diferentes. A primeira delas é o livro escrito por Alessandro, um dos rapazes que resolveu se matar. Seu último ato como escritor frustrado foi narrar em tempo real a noite do suicídio coletivo sem omitir nenhum detalhe, por mais sinistro que fosse. Ainda sob o ponto de vista do rapaz, temos uma espécie de diário onde Alessandro registrava as coisas que vivenciava, dando informações valiosas para o contexto. Por fim, há a transcrição da reunião entre a delegada e as mães dos jovens que ocorre no presente.

Assim, nós vamos conhecendo um pouco mais sobre os personagens que compõem Suicidas. A verdade, porém, é que nenhum deles desperta a nossa simpatia. Todos têm algo de ruim, seja no caráter ou na maneira de se portar e isso fica claro ao longo da leitura. O próprio narrador, Alessandro, é um sujeito preconceituoso que se sente superior às outras pessoas, demonstrando isso ao agir de forma apática em diversas situações.

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O que prende os leitores é a curiosidade para saber o que de fato aconteceu na noite do suicídio e por que eles optaram por algo tão extremo. Os momentos de angústia, as dúvidas frequentes sobre o que eles estão fazendo e os desentendimentos causam uma tensão que torna impossível ver qualquer beleza ou significado altruísta em tirar a própria vida. O relato cru e objetivo nos mostra que, quando as pessoas não têm mais nada a perder, elas são capazes de fazer as maiores barbaridades.

A atmosfera de suspense e apreensão se mantém até a última linha, quando finalmente entendemos como e por que aquilo aconteceu dentro do porão. A forma como os personagens alcançam seus objetivos nem chega a ser o mais surpreendente, mas sim a motivação que os levou por esse caminho de sangue e morte.

Por mais que haja muitos momentos incômodos e perturbadores, a leitura de Suicidas compensa pelas surpresas finais e deixa a sensação de que fizemos parte daquilo de alguma forma. Essa característica provocante da narrativa mórbida de Raphael Montes é o que faz com seu primeiro livro tenha se tornado esse grande sucesso.

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Mozer Dias

Engenheiro por formação, mas apaixonado pelo mundo da literatura e do cinema. Se eu demorar a responder, provavelmente estou ocupado lendo ou assistindo a um filme.

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