O cinema argentino sempre desperta expectativas quando um amante da sétima arte assume seu posto na poltrona. Se você já viu os filmes da lista de 5 películas argentinas (que pode ser lida aqui), sabe do que eu estou falando. Neve Negra traz o diretor Martin Hodara, que foi assistente de obras primas como Nove Rainhas e diretor de O Sinal. O roteiro também é creditado a Leonel D’Agostino, que é um veterano nas produções argentinas. Os dois juntos nos trazem uma história de suspense que desde o início promete uma grande reviravolta.

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Marcos viaja com sua noiva de volta para a Argentina, com o intuito de convencer seu recluso irmão, Salvador, a vender sua parte da madeireira por um valor milionário. Salvador vive numa cabana completamente isolada e parece ser um sujeito extremamente violento. A visita é cheia de tensão e claramente há algo mal resolvido envolvendo a morte do irmão mais novo, na época em que todos eram jovens.

O grande problema desse filme é sua forma de conduzir a tensão e o suspense. Tudo deixa claro que existe um mistério a ser resolvido em relação à morte de Juan, o irmão mais novo, como dito acima, e o segundo ato do filme não tem muito para contar, só se estende até a revelação no final do terceiro ato. Leonardo Sbaraglia é Juan, um sujeito pacato que está empolgado em iniciar uma família com sua esposa, Laura, interpretada por Laia Costa. Em grande parte do filme nós temos esses dois interagindo com Salvador, que é interpretado por Ricardo Darín. Os três ficam na cabana isolada e não desenvolvem nenhuma conversa interessante, justamente para manter um clima de mistério constante. Diversas perguntas que não são respondidas, respostas atravessadas e olhares para o horizonte. Um segundo ato construído somente com esses elementos.

Outra coisa que não ajuda é as interpretações. Não se pode dizer que isso foi uma orientação do diretor, mas todos esses três atores fazem interpretações dúbias. Laia Costa é um exemplo perfeito. Em alguns momentos, ela parece estar flertando com personagens, sendo que tal situação não faria sentido nenhum com a história. Em determinados momentos de tensão, os personagens propositalmente não conversam somente para manter o clima de mistério, fazendo algumas cenas ficarem sem muito sentido.

Mas, no final das contas, a revelação do terceiro ato compensa?

Em partes. De fato, o roteiro é muito bom e a finalização da história também é muito boa. Compensa o segundo ato, que foi muito esvaziado em prol do terceiro. Faltaram alguns diálogos interessantes para prender a atenção e se importar com a história até o fim. Por outro lado, um acerto incrível do diretor é mesclar passado e presente sem fazer cortes de cenas e colocar sons que estão acontecendo no passado nos eventos presentes, pois justamente o filme se trata sobre os eventos pretéritos interferirem na realidade imediata.

O filme vale ser visto, e talvez o terceiro ato realmente fique em sua cabeça por sua qualidade. Se você tem dificuldade com filmes que se arrastam (apesar desse só ter uma hora e meia) talvez possa ser difícil se manter empolgado até o final. A direção de Hodara é muito interessante, mesmo com as atuações estando um bocado estranhas. É interessante também ficar de olho nesses dois roteiristas, pois esse filme já é uma boa peça de história de mistério.

 

 

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Raul Martins

Autor dos livros Cabeça do Embaixador e Onde os sonhos se realizam

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