“Ah, como é bom ser nerd! Sou altamente requisitado nos papos sobre cinema e séries. Games então, vixi! Chego a ser popular na minha redoma. Nas Tvs, temos vários programas especializados nos papos que a gente curte, inclusive, aquele famosinho, que apresentou o Big Brother 17, também é nerd e apresenta um programa voltado pra mim na TV Globo. Ora, pelos cavanhaques de Downey Jr, quase me esqueci que tenho que comprar a camisa do Guardiões da Galáxia, pra eu mostrar pra todos minha preferência pela Marvel. Bazinga! Eu sou DCnauta, curto muito mais o Batman rs!. De qualquer forma comprarei minha camisa pois, sobretudo, quero mostrar que eu sou… um… nerd!”

Hoje em dia muitas pessoas leem esse texto acima e conseguem fazer algumas identificações, próprias ou alheias. Há tempos conseguimos perceber o grande “boom” da, hoje, chamada cultura nerd. A mesma que já fora desprezada por muitos que atualmente nadam na crista dessa onda. Bem, não quero fazer mimimi de nerd old school aqui no site, mas, neste dia do orgulho nerd, sinto-me realmente orgulhoso por ter sofrido o que sofri, e vivido o que vivi, para poder colher os frutos da virada do mundo. Hoje, o deslocado é quem não curte quadrinhos, super-herói, anime, etc. Comemoremos? Sim, mas, como todo bom nerd, sem deixar de ter aquele olhar crítico sobre tais fatos.

Vivemos uma enxurrada de produtos voltados ao público nerd, várias produções cinematográficas, televisivas, literárias… nunca tivemos um momento tão em voga como esse. A explicação é simples, os nerds produzidos nas décadas de 80 e 90 cresceram, amadureceram, trabalham, mas continuam com suas personalidades, que foram moldadas a muito Star Wars, Cavaleiros do Zodíaco, Homem-Aranha e Batman, ainda intactas. Ou seja, os jovens desprezados de outrora, tornaram-se um grande mercado consumidor. Empresas, corporações e produtoras que antes construíam estereótipos geralmente negativos sobre nerds, agora os exaltam. Fazem camisas, canecas, filmes, séries e programas para lucrar em cima das pessoas que eles mesmos reforçavam a ideia de que os descolados deveriam pisar em cima. O conceito nerd virou um produto lucrativo, e ,de um produto lucrativo, virou moda. E da moda, o “nerdismo”. O próprio produto nerd virou coisa que não é, necessariamente, nerd. Mas… como assim??

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O que é ser Nerd? Não é tão fácil responder essa pergunta, mas podemos ter uma imagem de um todo para isso. Aquela pessoa que, muitas vezes, prefere a companhia de uma TV, livro ou quadrinho ao invés da companhia humana, podendo ser pelo motivo da história ser mais interessante do que a pessoa em questão, ou pelo fato de ter medo ou timidez de estabelecer uma relação social em que você possa ser julgado pela sua falta de jeito. Optar ficar em casa assistindo ao filme ou jogando game ao invés de sair na balada; não gastar dinheiro com bebidas, roupas, lanches, para poder comprar sua action figure ou uma espada katana para colocar em sua estante. Ser nerd é curtir histórias que fazem nos teletransportarmos de nossas pacatas vidas e vivermos aventuras de outras galáxias, poderes sobre-humanos, viagens no tempo, criação de vida robótica, etc. Sempre uma extrapolação de sua realidade monótona que nos fazem viver mais de um mundo ou realidade, e sim em infinitas terras. É assim que somos, pessoas que vivem em um mundo, mas que estamos constantemente fora dele.

Logicamente, quando o tempo passa, todo esse padrão vai se diluindo, afinal de contas, com os anos vem a experiência. Aprendemos a lidar com as dificuldades que as nossas próprias existências nos impôs, aprendemos a lidar com termos que nos chamavam que hoje em dia podem ser traduzidos singelamente com o termo “loser”, trabalhamos, consumimos e, sobretudo, relacionamo-nos em cima de um padrão que a vida mostrou ser o mais cômodo dentro de nossa bolha social e cultural. Mas o meu espírito crítico e cri-cri de nerd, faz uma pulga coçar atrás da minha orelha sobre esse apoderamento da cultura nerd. A moda nerd.

Sim, vivemos um momento como nenhum outro, produções, filmes, séries e outras coisas a mais sobre temas que curtimos e consumimos sendo realizados insanamente no mundo pop, são legais e nos faz sentir levemente recompensados depois de ouvir por tantos anos que isto era coisa de maluco. Porém essas produções atuais são voltadas para nós? Vemos que muitas destas coisas que são produzidas sob a temática nerd não tem como o foco o público nerd, e sim o geral. A pasteurização sobre o assunto é comum quando estamos falando de popularização, e é isso que estamos vendo, a popularização da cultura nerd. Hoje em dia é dificil encontrar alguém no mundo que não saiba o que é Vingadores ou Game of ThronesStar Trek ou Star Wars, mas será que essas obras continuam sendo as mesmas, ou, pelo menos, da mesma linguagem que nos fizeram adorá-las no passado? Ou se tornaram obras voltadas para o apelo geral, esquecendo-se assim daqueles plots que nos faziam pensar, imaginar, elucubrar e criar em cima de tais temas e teorias?

“Ah, mas ainda assim vale a pena. Agora estamos vendo filmes e outras coisas a mais que eram impensáveis sem essa popularização!” Sim, concordo. Mas até aonde essa popularização afeta a linguagem da obra? Será que a tornará desinteressante, e, com isso, desvalorizaremo-na ou passaremos a retirá-la de nosso acervo cultural? Acabamos de experienciar algo semelhante na adaptação do mangá e anime Ghost in The Shell, obra altamente valorizada e cultuada por toda a reflexão que nos exercita, sendo resumida a um filme meia boca chamado de A Vigilante do Amanhã. Fato que gerou desinteresse, e até raiva, nos fãs, e uma indiferença enorme do público geral. Um desserviço à cultura nerd. Assim como várias outras obras que se apropriam de temas e valores da cultura nerd, mas que não sabem dar o conteúdo nerd que lhe tornou interessante. É como se passassem a vender hot-dog sem salsicha, ou hamburger de pão com manteiga. Com isso, volto a perguntar, será que essa moda é positiva ou não?

De toda maneira, no dia do orgulho nerd, ou da toalha, ressalto o mesmo orgulho de ter vivido o que vivi e dos mundos que visitei nesta minha jornada. O mesmo orgulho de ser aquela pessoa chata e perfeccionista que gosta de saber os porquês de tudo, e me contentar com explicações pífias, porém críveis ao nosso modo, como, por exemplo, um somente: Ele é de Kripton. Acima de tudo, orgulho às nossas brilhantes mentes que pensam fora da caixinha… fora do planeta… fora da galáxia. E, sobretudo, orgulho ao nosso senso crítico para dizer que estamos de olho nessa moda nerd.

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Daniel Gustavo

O destino é inexorável.

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