Gradativamente no mundo da comédia começou a surgir um subgênero de filmes que mostram um grupo de amigos se metendo em enrascadas. Existem diversos deles sendo talvez o mais popular o “Se Beber Não Case”. Já existem todos os clichês. Sempre tem dois elementos do grupo que estão brigando, um elemento completamente louco, alguém que está insatisfeito com a vida que está levando e diversos outros elementos que compõem esse tipo de história. “A Noite É Delas” é mais um desses filmes que segue essa cartilha religiosamente, até demais.

Jess é uma aspirante a política que está para se casar. Com saudade de suas amigas da faculdade ela sai para uma vigem de “despedida de solteiro” em Miami. As coisas começam a sair terrivelmente errado quando elas chamam um stripper para a casa em que estão hospedadas. Ocorre um acidente e elas caem numa espiral de problemas sem fim que pode acabar com a vida de todas elas.

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Para um filme desses funcionar é preciso de algo fundamental: personagens interessantes. Não importa que aconteça todo o tipo de coisas terríveis com elas,caso não se desenvolva nenhum apego do público para com as personagens. É justamente esse o problema desse filme. Por mais que tenhamos Scarlett Johansson (que faz a Jess) e outras boas atrizes formando o grupo principal, a falha primordial está no roteiro. Elas são incrivelmente óbvias.  A rica, a que esqueceu como se divertir, a estranha e a que não tem vida pessoal. Não tem nada de inventivo ou minimante interessante para que venhamos a nos importar com elas. Na verdade ocorre o oposto. Duas personagens mais irritam do que fazem rir, que são Alice (Jillian Bell interpretando) e Pippa (vivida por Kate McKinnon que fez um papel muito semelhante no último Caça Fantasmas).

A dupla Lucia Aniello (que também dirige o longa) e Paul W. Downs (que faz um dos poucos bons personagens do filme) até criam uma história com boas reviravoltas, mas elas vão perdendo o impacto pela falta de personalidade das personagens. A comédia do filme se baseia principalmente no estilo “comédia de erros”, que conceitualmente está boa, mas mal executada. Muitos eventos intensos da trama perdem o impacto.

Esse também é um filme que solta piadas dentro de diálogos o tempo todo. Geralmente quando o roteiro faz uso disso é normal que você acabe rindo vez ou outra, pois tantas piadas são soltas que algumas acabam funcionando. Neste caso nem isso acontece por uma questão muito simples: boa parte das falas não faz o menor sentido. Parece que houve uma confusão do que é uma fala engraçada. Muitas das personagens dizem coisas completamente sem sentido e, supostamente, era para ser engraçado, mas não casa com nada que está ocorrendo em volta. Outro problema é que o roteiro tenta misturar outros elementos de suspense com uma trama primordialmente cômica, bagunçando todo o tom do filme. Uma hora estamos num momento bizarramente violento e logo em seguida uma piadinha sobre tal momento ocorre, e, em vez de gerar risadas, acaba causando uma sensação de constrangimento involuntário.

O grande problema deste longa é não saber que tom quer abordar. Esse poderia facilmente ser um verdadeiro filme de suspense, ou até uma comédia totalmente surtada, mas acaba ficando no meio do caminho. Uma comédia que não é eficiente, mas pode acabar prendendo atenção pelos diversos eventos surreais que ocorrem que pelo menos ajudam a manter o ritmo da história sempre bem acelerado. Talvez um bom filme para ver com grupo de amigos e amigas, pois pode potencializar as gargalhadas com mais gente envolta. Para ver sozinho pode não ser tão agradável.

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Raul Martins

Autor dos livros Cabeça do Embaixador e Onde os sonhos se realizam

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