Imagine um filme onde Chico Bento encontra Constantine. Parece bizarro? Tosco? Mas acredite que essa analogia bizarra que fiz ajuda a entender o incrível personagem Malasarte que protagoniza o recente lançamento do cinema nacional. O filme é dirigido e roteirizado por Paulo Morelli, nele acompanhamos a aventura desse personagem que acaba se envolvendo com a própria Morte num duelo de artimanhas e truques para ver quem vai assumir o posto de ceifador das vidas humanas.

Apesar da minha estranha comparação o filme tem muito mais de Chico Bento do que Constantine. Um filme mais puxado para comédia, mas com uma ótima dose de aventura e fantasia. Temos um elenco sensacional composto por Jesuíta Barbosa (Malasarte), Isis Valverde (como Áurea), Júlio Andrade como Morte e uma série de outros nomes relevantes da cena nacional como Vera Holtz e Leandro Hassum. Todos estão muito bem e em papéis muito difíceis, que demandam um sotaque mineiro muito carregado ou personas exageradas. O clima do filme é de uma grande fábula e por isso os personagens como um todo falam coisas um tanto irreais e, por vezes, um tanto infantis, mas totalmente condizente com a proposta leve e divertida deste longa.

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A direção de Paulo Morelli é incrível (o mesmo diretor de Cidade dos Homens), acompanhada de uma fotografia sensacional que vai do belo, onírico e interiorano ao sombrio e gótico. O roteiro também é muito bom e surpreendentemente intricado para uma história que propositalmente se aproxima das características da fábula clássica, mas sem cair na simplicidade excessiva. Muito pelo contrário. Aqui temos conceitos sobrenaturais, intrigas envolvendo quatro personagens simultâneos e suas interessantes relações. Vale dar uma atenção especial às falas que são bastante líricas, algo semelhante ao filme Princesa Prometida, que dá um toque especial a essa história que já é bastante charmosa com o regionalismo mineiro.

O único ponto fraco do filme é o uso de efeitos especiais que não são de uma boa qualidade em diversos momentos. Isto não seria um erro grave se a direção não abusasse desses efeitos pouco convincentes e pouco discretos. Nada que atrapalhe a história, mas acaba tirando a imersão. Independente disso é bom ver o cinema brasileiro ousando em efeitos especiais mais escalafobéticos e sem medo de embarcar na fantasia. Em compensação o figurino e a trilha sonora são ótimos e compõem o estilo único do filme de forma perfeita.  

Um filme nacional que merece ser visto no cinema. Agrada a criança e os pais por possuir aquele humor que atinge ambas as idades de formas diferentes. Malasartes é o protagonista que vai fascinar o público, é a representação divertida e clássica do malandro que sempre se mete em problemas, mas acaba escapando deles de forma brilhante.

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Raul Martins

Autor dos livros Cabeça do Embaixador e Onde os sonhos se realizam

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