Quem ler a sinopse do Grande Hotel Budapeste sem conhecer o seu diretor, Wes Anderson, pode ficar um pouco desinteressado pelo longa-metragem. Porém, como já é de seu feitio, Anderson brilha no seu já esperado “inesperado”, e de uma trama aparentemente simples, consegue extrair a essência de uma boa história a ser contada nos cinemas.
O Grande Hotel Budapeste é um filme calcado na humanidade. Com personagens humanos com motivações humanas e principalmente com problemas humanos. Não é à toa, pois Wes Anderson é formado em filosofia, a ciência do ser humano, e essa criação de universos diferentes baseados na humanidade de seus personagens chega a ser estilística. E mais uma vez é isso o que ele nos apresenta, não só personagens humanos, mas com camadas mais profundas.
E o melhor exemplar desses personagens é ao qual a trama se desenvolve, Monsieur Gustave (Ralph Fiennes), o concierge do Hotel Budapeste. O faz-tudo do estabelecimento. Aquele que arranja desde uma passagem de trem para os hóspedes até o sexo com senhoras de idade por quem ele mesmo tem uma paixão.
Com o elenco “Wes Anderson” indefectível de sempre, o filme apresenta um universo de cores fortes, personagens interessantemente satíricos e situações não só criativas, como também inusitadas. Temos grandes perseguições, referências à Segunda Guerra, fuga de prisão e até uma irmandade de concierges pelo globo. A cadência do longa pode ser cansativa para alguns, mas não chega a ser um grande defeito.
O estabelecimento pulsa graças ao grande amor de Gustave por sua profissão, virando uma espécie de ídolo no Hotel e uma referência em todo o continente. Não só por sua eficácia – as senhoras que o digam – mas também por conseguir resolver tudo com sua elegante discrição. Estas camadas de personagem podemos também observar em Zero (Tony Revolori), o novo mensageiro e aprendiz de Gustave, que está disposto a doar seu corpo e sua alma para aprender e evoluir com o melhor concierge da Europa.
Zero acaba assim como nós, adentrando em uma grande aventura contra vilões perigosos, caricatos e hilários, enquanto esperávamos apenas conhecer o dia-dia do Hotel Budapeste.
Livremente inspirado nos textos de Stefan Zweig, poeta e dramaturgo austríaco que faleceu em Petrópolis/RJ na década de 40. O Grande Hotel Budapeste é ao mesmo tempo delicado e hilário, sem deixar de apresentar uma estética marcante. Como é do estilo de Wes Anderson.