Objetos Cortantes explora o psique de personagens quebrados em um excelente thriller psicológico envolvendo assassinatos de adolescentes em uma cidade do interior. Acompanhamos Camille Preaker (Amy Adams) uma jornalista que forçadamente volta à sua cidade natal, Wind Gap, para cobrir tais acontecimentos. A série da HBO mostra uma narrativa enigmática para não só descobrirmos quem é o assassino serial que assombra a pequena cidade, mas também descobrir os traumas que atingem psicologicamente a protagonista.

A série adapta o livro de mesmo nome da autora Gilliam Flyn, que também assina o roteiro da adaptação. O que já demonstra os cuidados que a HBO teve com a série. E isso é reforçado com a direção de Jean-Marc Vallée (de Clube de Compras Dallas), o protagonismo de Amy Adams (A Chegada, Homem de Aço), e a brilhante presença de Patricia Clarkson como Adora Crellin. O canal de TV à cabo não poupou gastos com esta produção. A fotografia da série é belíssima conseguindo transmitir bem a dualidade que habita não só na protagonista, como também na própria cidade que apesar parecer pacata e interiorana mostra uma faceta assustadora em sua história e habitantes.

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Camille Preaker, uma jornalista que volta à contra gosto a sua cidade natal para cobrir o assassinato de uma adolescente, acaba enfrentando seus próprios demônios ao voltar à dinâmica do convívio familiar que a mesma já tentou esquecer. A série faz um balanço entre as investigações do crime e as próprias lembranças de Camille, que em flashes misturam passado e presente na mente da jornalista e acabamos a cada episódio captando mais respostas à sua personalidade frágil e seus problemas psiquiátricos. Que não são nada comuns. Talvez ela se enquadraria numa personalidade “borderline”, uma pessoa que está sempre no limite entre o caos e a sanidade. E ao longo da série vamos descobrindo as possíveis causas de tal transtorno, como abusos e negligências da própria mãe Adora (vivida por Patricia Clarkson), o falecimento precoce de sua irmã Marian, e o novo e ardiloso convívio de sua meia-irmã Amma (Eliza Scanlen). E voltar à Wind Gap se torna uma verdadeira terapia de choque para Camille.

Enquanto não está reunindo os cacos de sua personalidade, a jornalista busca informações para a sua grande matéria. E percebemos como a pacata Wind Gap é um local realmente de causar transtornos. Jovens entediados, adultos vítimas de suas próprias histórias, fofocas e muitos segredos. Tanto que quando alguém de fora chega á cidade já se percebe um espírito diferente no mesmo, é o que acontece com o detetive “Kansas City” que acaba se envolvendo com Camille e seus problemas. Amy Adams está realmente brilhante no papel, conseguindo passar toda a complexidade da personagem de uma forma chocante. Um trabalho que realmente não era fácil, e atriz já falou que não quer voltar a viver a personagem devido ao desgaste emocional que ela sofreu nessa interpretação. 

Objetos Cortantes estabelece uma excelente conexão entre a protagonista e o espectador, fazendo-nos viver suas dores e nos sentirmos culpados por suas decisões ruins dentro da trama. E ainda temos a narrativa do assassino, os suspeitos, as vítimas. Tudo isso transforma a série num amálgama de elementos clichês de investigação que são muito bem realizados. O investigador bêbado (no caso é a jornalista), o rol de possíveis assassinos, as reviravoltas, e o “caso terapêutico” (quando o caso acaba funcionando como uma terapia no investigador). Porém tudo excelentemente amarrado dentro do roteiro e com um olhar diferenciado da direção. E mesmo sem ter nenhuma cena de ação, a série prende o espectador numa jornada angustiante de investigação e auto-descoberta. A produção ainda conta com um final tapa na cara, daqueles de deixar qualquer um imaginando o que pode acontecer a partir dali. Pena que não terá continuação (até o momento).

Enfim, uma série densa e complexa que dá poucas recompensas ao espectador, entretanto conta com bastante originalidade e momentos catárticos, transformando tudo isso numa excelente jornada de oito episódios. A HBO acerta mais uma vez e reforça seu valor para com seus assinantes em Objetos Cortantes, mostrando que ainda vale à pena manter suas assinaturas na TV à cabo.

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Daniel Gustavo

O destino é inexorável.

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