Quando ouvimos falar em George R. R. Martin, a primeira obra que nos vem à cabeça é a série Crônicas de Gelo e Fogo, iniciada nos anos 90 com A Guerra dos Tronos. Porém, antes de se destacar como um grande autor de fantasia, Martin escreveu muitas obras de ficção científica, entre elas Nightflyers, publicada em 1980.

A novela nos apresenta uma equipe de nove acadêmicos em uma expedição científica pelo Universo a procura dos Volcryn, uma misteriosa raça alienígena. Para realizar a viagem, eles embarcam na Nightflyer, uma espaçonave completamente automatizada e tripulada por apenas um homem: o capitão Royd Eris. Contudo, essa figura enigmática não se mistura com seus passageiros, se comunicando com eles apenas através de hologramas. A desconfiança e o desconforto que isso gera são suficientes para deixar o clima tenso, mas as coisas pioram quando um ser desconhecido começa uma onda de assassinatos dentro da nave.

Assim como Stephen King, Martin também possui um universo compartilhado. No seu caso, são os Mil Mundos, uma série de contos, novelas e romances que contam como a Terra iniciou a colonização interplanetária até entrar em colapso devido à resistência de algumas colônias. Nightflyers se encontra dentro desse contexto e conta uma das muitas histórias que aconteceram entre a ascensão e a queda do Império.

Trata-se de um livro pequeno, que não possui divisões em capítulos, mas apenas algumas pausas que nos permitem tomar fôlego e continuar a leitura. As especulações sobre as origens dos Volcryn geram alguns diálogos interessantes entre o capitão Royd e o chefe da expedição, o cientista Karoly D’Brannin. Entretanto, essas discussões são rasas e não trazem muitas reflexões.

Não são apenas essas questões existenciais que carecem de um maior aprofundamento, pois isso também falta aos personagens. Quem conhece o trabalho de George Martin sabe que não devemos nos apegar muito a nenhum personagem, mas isso sequer chega a acontecer em Nightflyers, já que os passageiros da nave são mal desenvolvidos. Somos apresentados rapidamente à função de cada um dentro da equipe, porém a narrativa não os explora, dificultando a identificação com qualquer um e fazendo com que não nos importemos quando começam a morrer.

A consequência disso é que a trama passa a correr quando não há mais o que ser dito a respeito dos membros do grupo. A identidade da criatura assassina é revelada, mas isso não chega a impressionar porque o suspense já se perdeu e o que restou foram as mortes violentas e sangrentas.

Se Nightflyers desse maior atenção à construção da história e ao pano de fundo de seus protagonistas e coadjuvantes, o livro poderia se tornar bem mais marcante e possuir aquela característica única que a fantasia de Martin possui. Entretanto, isso não acontece e a obra, no geral, deixa a desejar.

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Mozer Dias

Engenheiro por formação, mas apaixonado pelo mundo da literatura e do cinema. Se eu demorar a responder, provavelmente estou ocupado lendo ou assistindo a um filme.

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