Poucos filmes têm uma história de bastidores tão legais quanto Rocky. Sylvester Stallone estava completamente perdido na vida. Já havia vendido seu próprio cachorro e chegado no nível de dormir em rodoviárias para se sustentar. Conseguiu vender seu primeiro roteiro para uma grande produtora e negociou até o fim para estrelar como o protagonista, afinal era ele mesmo ali no papel. Um boxeador fracassado, sem rumo, que tem a chance de uma vida de lutar contra o campeão mundial de boxe, assim como Stallone teve a chance de uma vida, filmar seu roteiro e interpretá-lo.

Um drama denso e pesado que muitos colocam como um dos melhores filmes de boxe de todos os tempos. Se olharmos friamente, de boxe o filme só tem o pano de fundo. Somente no final temos uma luta de verdade, no início do filme somos brindados com um final de uma luta amadora bem mequetrefe. O drama é o conceito principal e que move toda a história. Neste caso temos o boxe, mas poderia ser qualquer outra coisa, pois o principal é um homem que está lutando para colocar sua vida nos eixos: quer arrumar uma namorada que ele ame, quer melhorar de vida de forma honesta e, principalmente, quer provar para ele mesmo que é capaz de realizar o que se propõe.

Muito se fala hoje como Stallone é um símbolo de uma geração de filmes dos anos 80 de heróis musculosos que não pensam e matam qualquer um que fique no seu caminho. O próprio personagem Rocky se tonou a cada vez mais isso com as continuações que foram se tornando mais sobre boxe em si. O que acho que fica esquecido é que este mesmo cara escreveu o roteiro desse drama brilhante com a sensibilidade de colocar sua própria vida numa história e encantar o mundo com ela, assim como todo grande artista o faz seja no cinema, livro, etc. Mesmo que anos depois ele tenha feito filmes galhofas (e divertidos) como “Os Mercenários”, isso não apaga, ou diminui, o drama denso que é Rocky.

No olhar de hoje o filme é bem lento, mas com o propósito de gastar muito tempo desenvolvendo todos os personagens, entretanto a cena icônica do treinamento, que marcou o cinema para sempre, é na verdade bem curta. O ouro está nos diálogos e monólogos que são feitos e por vezes até param de contar uma história e gastam um tempo só refletindo sobre a vida, como no momento em que Rocky dá uma lição de moral numa menina que estava andando com maus elementos na rua. Neste momento a história não está indo para frente, só mostra como Rocky vê o mundo e como pensa sobre ele.

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Rocky é um ótimo exemplo de como a arte pode inspirar a vida. O sucesso estrondoso desse filme, e os três Oscars conquistados, refletem a capacidade profunda de conexão que quase todo mundo pode ter com a história do lutador. Todo mundo já sonhou em conquistar algo e se viu muito distante de seu objetivo. Todo mundo já pensou em desistir ou julgou impossível tal realização. Para fechar com chave de ouro essa conexão é o final do filme, a “vitória” final de Rocky não é óbvia além de ter uma beleza incrível que ajuda a transformar essa obra num clássico.

Uma obra prima que certamente todo mundo já viu e adora. Teve marcar sua presença aqui no TarjaClassics com o aniversário do personagem que gradativamente está retornando à sua origem de drama, como visto no filme Creed. Se quer mergulhar mais nos filmes de Rocky ouça nosso Tarjacast sobre ele aqui.

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Raul Martins

Autor dos livros Cabeça do Embaixador e Onde os sonhos se realizam

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