Amy Shumer é uma famosa comediante, e roteirista, americana, que tem feito muito sucesso com seus programas de TV e stand-up. Ela já começou sua carreira em filmes onde ela é a protagonista e tenta levar seu estilo de comédia para o cinema. Em seu último filme Viagem das Loucas ela interpreta Emily que acaba de ser demitida e tomar um pé na bunda de seu namorado, e decide arrastar sua mãe (interpretada por Goldie Hawn) numa viagem ao Equador, onde elas são sequestradas. Uma comédia com pequenas doses de aventura roteirizada por Katie Dippold (uma das roteiristas do último Caça Fantasmas e do seriado Parks and Recreation) e dirigido por Jonathan Levine que tem algumas comédias no currículo.

O grande problema desses filmes são suas duas personagens principais, na verdade um pouco mais do que isso. Esse é um daqueles filmes onde todos os personagens são muito cruéis e tratam mal  os que estão a sua volta o tempo todo, e supostamente isso deveria ser engraçado. Aquele filme onde todas as falas são “tiradas” espertas para zoar alguém. A personagem de Amy é uma protagonista quase impossível de se apegar, pois sua personalidade é de uma pessoa que você odiaria passar cinco minutos conversando. Ela é egocêntrica, mal educada, reclama o tempo todo e é incrivelmente fútil. Sua mãe, Linda, é a típica mãe super preocupada com tudo e medrosa com todos os perigos do mundo. Ela não é tão péssima quanto a personagem de Amy, mas também não é o tipo de pessoa que você se apega num filme. Quando o roteiro as coloca na floresta sofrendo diversos perigos  fica muito difícil se importar, pois elas são pessoas horríveis e ter empatia por elas é muito difícil.

Mas e o humor do filme? Funciona? É o tipo de filme que solta piadas a cada momento, então ele acaba acertando uma vez ou outra, mas a maioria, ou é extremamente previsível, ou simplesmente de péssimo gosto. Em diversos momentos o humor escatológico é usado, mas sem a menor inteligência ou criatividade, além de menções a sexo como se o simples fato de citar uma posição sexual ser algo engraçado. Em outros são piadas feitas quando as personagens se encontram em situações perigosas que deixa tudo com um clima muito bizarro. O filme faz diversas piadas com perigo imediato, sequestro, escravidão sexual e doenças terminais sem o menor cuidado, delicadeza ou sensibilidade. Como se o simples fato do filme usar essas coisas já ser engraçado por si só. O “humor de constrangimento” também tem sua vez e até funciona em alguns momentos, mas é bem raro.

Agora vamos a outros problemas do roteiro. Amy Shumer ficou famosa por usar um humor muito inteligente para alfinetar diversos problemas sociais, como o machismo. Bizarramente, nesse filme, ela é a personagem que mais reproduz o machismo e neste roteiro quase tudo gira em torno de homens. Obviamente em diversos momentos isso é ironizado, mas em muitos outros é efetivamente machista, o que fica mais estranho quando vemos que o roteiro é escrito por uma mulher. E quando a personagem de Amy vê uma situação machista, e reclama, chega a ficar esquizofrênico, pois o roteiro, faz com que a personagem dela faça tudo pensando na reação de outros homens. Certamente que esse, em teoria, é o arco a ser resolvido da personagem de Amy, mas ele é solucionado de forma totalmente artificial e parece que ela continua sendo a mesma pessoa ruim do início do filme. Outros problemas são as mudanças de tom repentino que vai de algo minimante realista para o absurdo completo.

No fim das contas temos uma comédia ineficiente, uma aventura chata e resoluções de personagens artificiais que na maior parte parecem uma grande ironia não intencional. Certamente esse não é o melhor trabalho de Amy, da roteirista e nem do diretor, pois todos eles possuem coisas melhores em seus currículos.

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Raul Martins

Autor dos livros Cabeça do Embaixador e Onde os sonhos se realizam

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