A dança é uma linguagem corporal que realmente expressa sentimentos. Alegria, celebração, melancolia, tristeza, em muitas formas diferenciadas tais sentimentos podem ser expressadas por essa arte. Em Suspiria – A Dança do Medo, remake da obra de Dario Argento de 1977, a dança é algo que pode ser visceral, assustador e misterioso, ainda mais quando é dirigida por uma orda de bruxas com sede de juventude. Porém o mistério talvez não seja tão bem desenvolvido assim.
Susie Bannion (Dakota Johnson), uma jovem bailarina americana, vai para a prestigiada Markos Tanz Company, em Berlim. Ela chega assim que Patricia (Chloë Grace Moretz) desaparece misteriosamente. Tendo um progresso extraordinário, com a orientação de Madame Blanc (Tilda Swinton), Susie acaba fazendo amizade com outra dançarina, Sara (Mia Goth), que compartilha com ela todas suas suspeitas obscuras e ameaçadoras.
Apesar de ser uma remake, a direção de Luca Guadagnino tenta se afastar ao máximo da obra original, impondo um clima mais obscuro e soturno à trama. Desde cedo já sabemos que a companhia de dança é dirigida por bruxas, mas não é muito bem explicado como esses seres mitológicos sobreviveram de tal forma até a década de 80 (época em que o filme se passa). Na realidade não há no filme muitas revelações ou conexões com o mundo à sua volta (o sequestro do voo noticiado nas rádios e TVs é a única conexão da história com o mundo real).
O terror aplicado em Suspiria é uma mistura de um psicológico misterioso com toques de gore, principalmente no terço final do longa. Os cortes de câmera durante a dança retrata bem o contraste da beleza dos movimentos de um lado e o reflexo macabro do outro. Gerando cenas bastante incomodas ao espectador. Movimentos que variam do suave ao bruto, do salto ao rastejo, um tom dicotômico que permeará a trama do filme e seus personagens. Se na dança as coisas acontecem bem, o desenvolvimento de personagens fica devendo.
Logo de cara fica claro o objetivo das bruxas com relação à Susie, mas o grande mistério era qual é a verdadeira intenção da protagonista em estar nesta Companhia de Dança. Observamos flashbacks da vida de Susie e desde criança ela morava em Berlim e ao grupo de dança liderada pela Madame Blanc. Mas o desenvolvimento da personagem é bastante acanhado, mesmo com 2h30m de película. De um minuto para outro a personagem passa de assustada a completamente entregue. Deixando a impressão que foi mal desenvolvido para manter o mistério, apenas. O único arco de personagem que é minimamente desenvolvido é o do psiquiatra mas ainda assim é um pouco enfadonho.
Por fim o longa se entrega de vez ao gore com uma revelação não muito surpreendente, mas coerente com a trama, de certa forma. Somos jogados em um banho de sangue numa tela escura avermelhada, que mal dá para enxergar o que há no peito aberto da protagonista. Suspiria é um filme plasticamente bonito, com belas cenas para colocar num trailer e imagens, mas um roteiro um tanto confuso e uma direção demasiadamente pretensiosa querendo deixar tudo solto no ar para esconder problemas de narrativa e argumentação.