Um filme nacional de comédia… mais um de vários, não é mesmo? Muitos fãs de cinema detestam essas produções nacionais que parecem ser sempre as mesmas, muito água com açúcar. A verdade é que também existe uma má vontade com o fã de cinema para com o cinema nacional, onde a maioria torce nariz só de ver gente falando português na telona. Admito que quando vi a proposta desse filme me animei. Sou fã do Marcus Majella e a ideia de vê-lo como um tio disfuncional e caótico me pareceu muito divertida. Só teve uma coisa que saiu de errado: esse realmente virou só mais um filme de comédia.

Tonny é um trambiqueiro de marca maior. Tenta fazer alguns bicos como artista de rua e aplica alguns golpes para levantar uma grana. Quando a situação chega ao limite ele e sua mãe são despejados e pedem socorro para a irmã bem sucedida. O problema é que ela está indo viajar. Em mais um dos golpes dos dois, convencem a irmã a ir viajar, mas em troca precisam cuidar dos três filhos dela. Agora Tonny precisa aprender a ter responsabilidade e a entender o que família significa.

Sei que só por essa sinopse você já percebeu que tipo de filme é esse. Mais um daqueles clichês de que a família é o mais importante. Você esta certo, mas esse filme possui potencial. Majella faz um sujeito politicamente incorreto, bastante carismático e ele se empenha em seu personagem. Quem já o viu brilhar nos esquetes do Porta dos Fundos sabe do talento que eu estou falando. O seu personagem em si esta bem pensando, mas falta tempero.

Essa é a frase que define o filme todo: falta tempero. A produção realmente poderia ter ousado muito mais, apostando numa vertente politicamente incorreta e um tanto rebelde e abraçar um lado que ignora as convenções de família ou qualquer moral padrão que a maioria dos filmes passa. Mas Um Tio Quase Perfeito faz justamente o contrário.

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O roteiro de Rodrigo Goulart, Sabrina Garcia e Leandro Muniz parece mais um esboço de uma ideia interessante do que qualquer outra coisa, o que surpreendente levando em conta que três pessoas se juntaram para escrevê-lo. Era muito mais fácil ele ficar lotado de ideias do que esvaziado. Falas pouco inventivas, falta de situações cômicas e arcos de personagem que parecem rascunhos. O terceiro ato nem se esforça para fazer muito sentido em alguns momentos, parecendo ter pressa para acabar.

A direção de Pedro Antônio é preguiçosa. Sei que isso pode ser algo cruel de se falar do trabalho de alguém, mas parece que ele não vê a história divertida que estava em suas mãos. Cenas com transições altamente abruptas, posições de câmeras altamente convencionais e diversos atores dando falas de forma mecânica, deixando claro que não foram bem direcionados pelo diretor. Majella e Ana Lúcia Torre são ótimos atores e possuem os melhores personagens, mas, em contrapartida, contracenam com atores mirins relevantes para a história que não sustentam a cena. Talvez por uma falta de direcionamento da direção.

O filme tem vários conceitos bons. A fala marcante do protagonista, histórias de dormir da Tropa de Elite, ensinar truques de cadeia para crianças e outras coisas que apontam para esse lado anárquico e absurdo que esse filme poderia ter abraçado. Em diversos momentos é possível ter a sensação de que esse filme foi forçado a entrar numa caixa de padrão de filmes de comédia nacionais e perdeu tudo que tinha de original. Sei que o que irei falar agora pode parecer um enorme xingamento, mas para mim é um elogio. Esse filme poderia ter sido uma espécie daquelas comédias dos anos noventa do Adam Sandler, como “O paizão”, que para mim são filmes divertidos e com uma mensagem bacana, mas sem cair no moralismo bobo. Esse filme nem isso foi.

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Raul Martins

Autor dos livros Cabeça do Embaixador e Onde os sonhos se realizam

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