Por Vanessa Barros

O Athaliba era famoso na comunidade. Militar. Soldado do batalhão de guarda. Negro, muito alto e muito forte. Ficava muito na dele. Não era de maldades. Gostava de uma boa caninha de vez em quando. Falava grave, mas a voz lhe traía às vezes já que insinuava um quê de infantil. Amizades? Ninguém sabia se tinha. O semblante que carregava no rosto, pelo menos, indicava que não as tinha. E queria ser aceito.

O vizinho de bairro, também muito conhecido na comunidade, era o Erlancley José. Moreno claro, magro, franzino mesmo, mentia que media um metro e sessenta e dois tentando impressionar, festeiro, comunicativo, rodeado por muitos já que estava sempre pronto a oferecer animadas e muito frequentadas reuniões em sua casa. Todas no estilo americano já que não era bobo. Cedia a casa. Espaçosa, projetada sob intenções festivas mesmo. Mas que cada um levasse algo para comer e beber. Pensavam o quê? Tinha sido trazido do interior do estado do Alagoas pelos pais ainda criança. Por isso, e também pelo fato de o nome ser complicado, era conhecido apenas como o “Alagoas”.

A festa naquele domingo não era diferente das outras. Luzes coloridas. Vozes. Risos. Música. Gente enchia aquela casa como de costume. Comemorava-se o aniversário da enteada do alagoano.

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Atraído pelo barulho que se podia ouvir lá em sua rua, Athaliba resolveu que, daquela festa, iria participar. Tomava, sentado na pequena varanda, sua água ardente em um copo de requeijão ainda com rótulo. Do jeito que estava, saiu de casa. E também do jeito que estava foi barrado na festa que era exclusivamente da família, como alguém havia dito.

Rejeitado, Athaliba afastou-se do local da festa. Atravessou a rua e, indignado, lançou contra a casa, cujo muro era baixo, o copo que carregava nas mãos. O Alagoas, que conversava divertido com convidados, foi atingido. Dizendo aos amigos que não havia se machucado, deixou o quintal entrando em casa e saindo logo em seguida. Foi à rua em busca de Athaliba que, por não achar que havia feito nada de errado, andava calmamente. Alagoas exigiu satisfações. Athaliba não deu fé. Alagoas então provocou. E viu-se caído no chão por força do soco que levava. Um só! Atingido, reagiu. Sacou, levantando-se, sua calibre 32 e atirou no desaforado Athaliba que foi atingido na axila esquerda e, ainda assim, começou a correr sendo seguido pelo Alagoas que, sendo menor e mais leve, na corrida levava a melhor. Corria e atirava. Athaliba contando os tiros. Um… Dois… Três… Quatro… Cinco… Seis:

continua…

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A autora

Vanessa Barros (MG) é escritora. Autora dos livros Crônicas a Bordo de um Trem Urbano e  Crônicas a Bordo de um Trem Urbano – A viagem continua. Esta é sua segunda participação no L&P. Para conhecer mais sobre o seu trabalho ouça nossa entrevista com ela no Leituracast 11.

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Mozer Dias

Engenheiro por formação, mas apaixonado pelo mundo da literatura e do cinema. Se eu demorar a responder, provavelmente estou ocupado lendo ou assistindo a um filme.

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