Mesmo cercado de notícias e artigos relacionados ao mundo pop atual de forma geral, como um fã de Cavaleiros do Zodíaco sempre tento inventar algum pretexto para falar sobre o saudoso anime aqui no Tarja. E dessa vez, motivado pelas recentes notícias de novas produções da obra criada por Massami Kurumada (como uma nova saga em animação pela Netflix e um novo filme live-action sendo produzidos), quero externalizar o meu desejo de que essas obras sejam respeitosas ao material original: o mangá e, principalmente, o anime. E uma das mais importantes formas de se conseguir isso, além de, claro, respeitar o espírito dos personagens, é manter a essência das trilhas sonoras tão marcantes de Cavaleiros do Zodíaco, de preferência usando exatamente as mesmas. Pois elas são extremamente importantes no quesito do resgate nostálgico, elemento essencial para essas novas produções.

É comprovado que a memória auditiva é uma das mais marcantes na vida de um ser humano. Ainda maior que a própria memória visual. Quando escutamos uma certa música que sonorizou um momento determinado em nossas vidas, somos automaticamente transportados por nossas lembranças a tal momento: aquele romance vivido, o coração partido, um momento de felicidade ou paz… ou até mesmo a tristeza. Talvez esse tipo de memória só perca para a memória olfativa, pois aquele cheirinho de feijão da vovó nos teletransporta para aquela época em que podíamos bater aquele rango na casa da coroa. Mas um grande diferencial da memória auditiva é que uma música pode representar até mais que um simples momento, talvez ela possa até traduzir toda uma fase de nossas vidas, como aqueles hits da adolescência, quando qualquer coisa era motivo de rebeldia, mesmo sendo tudo menos complicado (época boa, né?). 

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Quando transportamos essas lembranças para o mundo pop também não é diferente. Muitas vezes uma música, ou até mesmo determinados sons ou  simples fonemas representam toda uma obra. Os sons são de extrema valia nas produções audio-visuais, não só pelas sonoplastias, importantes para ajudar na descrição de uma ação ou também de uma sensação (os efeitos sonoros utilizados pelas animações da Hannah-Barbera são ótimos exemplos neste quesito). Porém, ainda mais importantes são as músicas que compõem as trilhas sonoras, responsáveis por transmitir todo o clima dos momentos chaves de uma trama.

Nos animes, como também é uma produção áudio-visual, não é diferente. E vou além, a importância das trilhas é ainda mais profunda neles, e por vários motivos. Primeiramente pela inegável e irrevogável qualidade em conseguir transmitir um clima necessário com a música: um momento de desafio, de alegria, de reflexão ou de tristeza, são encorpados com a música de fundo geralmente no tom certo nestas produções. Um outro motivo que também é importante é o próprio formato dos animes, “sagas”, em sua maioria. Um estilo parecido com uma novela de história contínua. Tais momentos sonoros acontecem inúmeras vezes, e sempre são sonorizadas com a trilha daquele momento específico, que se repete constantemente durante os episódios, criando uma identidade própria para a música. Muitas das vezes quando escutamos tais trilhas, somos abatidos por uma lembrança daquele momento icônico do anime que mexeu com a nossa memória auditiva.

Cavaleiros do Zodíaco foi um dos animes mais importantes de sua época, com um enredo que misturava mitologia grega e astrologia em um plot com inúmeros momentos dramáticos que aconteciam dentro das batalhas mortais que envolviam os cavaleiros de Atena e seus inimigos. O anime marcou uma geração de brasileiros que se embrenhavam para dentro de suas casas quando era chegada a hora de começar os episódios na extinta e saudosa Rede Manchete na década de 90. Além de batalhas sangrentas e momentos dramáticos vivenciados pelos jovens e órfãos guerreiros, o que também marcou essa geração foram as músicas que compunham todos esses momentos de CDZ. Uma trilha sonora que variava do desafio empolgante ao trágico e melancólico. Hoje muitas dessas músicas ainda mexem com as nossas lembranças, trazendo aquele sentimento de nostalgia da velha infância. E esse texto tem como objetivo relembrar as mais marcantes. 

Logo de cara ressaltarei que as músicas de aberturas e encerramentos das sagas não entraram nesse texto, apesar de serem marcantes. Colocarei apenas algumas destas que tiveram suas versões tocadas dentro dos episódios. Então, vamos começar!

Pegasus Fantasy

Pegasus Fantasy se tornou a música de abertura definitiva do anime, cargo que já tinha sido ocupado de forma inexplicável na versão brasileira de CDZ pelas músicas “Guardiões do Universo” e aquela aberração cantada pela dupla infanto-juvenil Larissa e William. Detalhe, eu tive uma fita K-7 com toda a versão brasileira de músicas dos Cavaleiros do Zodíaco, que contava com uma dúzia de faixas mequetrefes, com direito ao Rap do Zodíaco. Graças ao bom Zeus a tradução brasileira nunca usou essas músicas na trilha sonora. Bem, como falei anteriormente, não iria citar as músicas nas versões de abertura ou encerramento dos episódios, porém Pegasus Fantasy ganhou versões instrumentais que participavam ativamente dos episódios. Temos duas versões mais importantes, a do vídeo acima tinha a função de ilustrar um clima mais descontraído (caso raro na discografia de CDZ). Geralmente aparecia nas interações de Seiya com Mino, Saori, ou até com os próprios companheiros de bronze em situações tranquilas. Já a versão do vídeo abaixo apresenta uma composição muito mais vibrante, tocada em momentos chaves de batalhas, geralmente quando Seiya elevava seu espírito de batalha e seu cosmo, por consequência. Esta segunda versão também é conhecida como Pegasus Theme.

Sad Brothers

Esta é uma música extremamente melancólica. Marcou os momentos tristes do anime. Pelo próprio título, percebemos que a tristeza é um sentimento chave que o autor quis levantar nesta melodia. A música é da trilha sonora original de CDZ que foi composta em sua totalidade pelo brilhante Seiji Yokoyama, renomado compositor no Japão (infelizmente falecido em julho de 2017) que também foi responsável pelas trilhas de Metalder, Winspector, Ohranger, entre outras séries. Yokoyama criou todas essas músicas citadas aqui no texto, ele só não foi responsável pela trilha da sofrível saga Ômega de Cavaleiros do Zodíaco (ainda bem!). Geralmente Sad Brothers compunha a lembrança dos irmãos separados na infância, como Seiya e sua irmã (que muitos achavam que era a Marin, mas, na verdade, Seiyka era uma outra pessoa), mas esta canção também “ilustrou” vários outros momentos contemplativos ao longo dos episódios de todas as sagas. É impossível alguém que tenha visto CDZ na sua infância ficar indiferente ao escutar essa obra.

Galactian War

Galactian War é uma das primeiras músicas de ação do anime. Como o próprio nome sugere, ela marcou a fase do torneio chamado de Guerra Galáctica, a competição que definiria o portador da armadura de ouro de Sagitário no primeiro e saudoso arco do anime. Esta música habitou a cabeça de muitas crianças que brincavam se imaginando um cavaleiro em ação, ou com os bonecos da franquia que custavam o olho da cara. Até hoje essa música é empolgante e faz com que até o menos ávido fã sinta vontade de fazer uma pose de batalha e elevar o seu cosmo.

Cosmo Theme

Falando em elevar o cosmo, esta música é capaz de fazer isso sozinha. Um tema recorrente nas batalhas mortais dos cavaleiros, que a todo momento se viam em desvantagens contra seus inimigos, porém, com a explosão de seu cosmo, eram capazes de chegar ao infinito e fazer o impossível. Essa música ilustra bem essa escalada de poder dentro de um momento de ação. Ela aparece ao longo de toda a saga do Santuário e diversas vezes mexeu com nossos corações, ainda mais quando era ela a responsável por encerrar o episódio. Uma canção muito recorrente do Ikki de Fênix.

Shiryu Theme

Essa música ficou conhecida por ilustrar diversos momentos de desafios. E a composição dela é para isso mesmo, somos jogados para um momento de ação onde tudo pode acontecer mesmo, que ainda não seja o momento final da batalha. Ela ficou conhecida como Shiryu Theme, por, justamente, marcar a primeira luta entre Seiya e Shiryu na Guerra Galáctica. Uma batalha que teve a vitória de Seiya, que usou um golpe na tatuagem de dragão nas costas de Shiryu para salvar sua vida, estabelecendo assim uma amizade eterna entre os dois personagens.

Warrior of Ice

Como o próprio nome sugere, Warrior of Ice é o tema de Hyoga. E isso já basta para explicar o tom melancólico e triste dessa canção, já que a tragédia sempre acompanhou o Cavaleiro de Cisne, e seus sentimentos perante tais perdas nunca foi segredo para ninguém. Quantas vezes mergulhamos no fundo do mar congelado da Sibéria, junto com Hyoga, para visitar o túmulo de sua mãe? Se pararmos para pensar, Hyoga tem uma das trajetórias mais tristes do plot de Saint Seiya. Ele é apegado ao corpo de sua mãe morta, enfrenta e mata em combate seu mestre e o mestre de seu mestre (no mangá o Cavaleiro de Cristal não foi o seu mestre, e sim o Camus de Aquário), e se cegou de um olho para igualar o sacrifício de seu amigo de infância que se tornara um General Marina, um dos guerreiros subordinados de Poseidon. Quantas vezes vimos a imagem do cisne voando e sendo abatido naquelas representações de animais que Cavaleiros do Zodíaco adorava fazer?

Lamento de Athena

Mais uma música melancólica nessa lista. O Lamento de Athena faz-nos relembrar dos sacrifícios dos Cavaleiros para salvar Saori Kido, a reencarnação da deusa Athena. Travando batalhas que seriam impossíveis de ganhar, com extrema coragem e sob a pequena proteção do cosmo da deusa, os cavaleiros de bronze subiam as escadas das Doze Casas do Zodíaco para conseguirem não só reivindicar o  trono da deusa no Coliseu, que era ocupado pelo “golpista” Ares, mas também salvar Saori de uma flecha que penetrara seu peito. Ao longo desse caminho Seiya, Shiryu, Hyoga, Shun e Ikki se sacrificaram em batalhas mortais contra os cavaleiros de ouro, em prol de tal objetivo. Essa música relembra esses momentos tristes, onde sofríamos com as mortes dos protagonistas. Após esta fase, a música reapareceu algumas vezes mais ao longo das sagas, sempre marcando um momento triste e de consternação relacionada a alguma morte.

Godwarrior vs. Saint

Essa música empolgante, traz-nos a lembrança de um grande embate desafiador. Tocou pela primeira vez no filme Os Cavaleiros do Zodíaco: A Grande Batalha Dos Deuses, uma história filler que apresentou uma aventura em Asgard antes mesmo da saga do anime no mesmo local (coisas de fillers descontinuados… enfim). Após isso, a música entrou na trilha sonora do próprio anime, sempre em algum momento de virada nas batalhas, principalmente contra os guerreiros deuses de Asgard (como o próprio título sugere) e também ficou marcante no confronto entre Seiya e Radamanthys no último episódio da fase do Santuário na saga de Hades.

Brothers and Sisters

Uma música que representa toda uma saga. Brothers and Sisters marcou toda a campanha dos Cavaleiros de Athena em Asgard, as terras gélidas governadas por Hilda, a representante de Odin na Terra. Há de se notar que esta música também apareceu primeiro no filme A Grande Batalha dos Deuses, que claramente serviu como um grande laboratório à saga correspondente. Engraçado que esta saga também foi filler no anime. A história trágica de Hilda e o Anel de Nibelungo não existia no mangá, porém, naquela época, até os fillers eram bons e esse arco, de muita ação e momentos marcantes, ficou na memória dos fãs old school de CDZ.

Under The Wood Of The World Tree

Mais uma vez uma música que surgiu no filme A Grande Batalha Dos Deuses. Para ser sincero, esse filme, apesar de filler, era bom, porém faz uma bagunça tremenda na cabeça dos espectadores. E para variar, a canção também aparece nos episódios dentro da saga de Asgard. Podemos entendê-la como uma música de conclusão, pois ela sempre aparece nos momentos finais, quando os castelos estão desmoronando após uma grande vitória, ou, pelo menos, a conclusão de um arco. Under The Wood Of The World Tree também aparece na conclusão do arco do Santuário na saga de Hades.

Chikyuugi

Falando em saga de Hades, Chikyuugi foi a música de abertura de toda a primeira fase dela, onde os finados cavaleiros de ouro são ressuscitados de seus túmulos pelo deus do submundo, para que possam derrotar Athena com seus próprios punhos sem honra. Vestindo a versão “Sapuris” de suas armaduras de ouro, Saga, Camus e Shura concluem o plano de sacrifício da deusa da justiça, que, de boa vontade, a cumpre. Chikyuugi, além de ser uma das mais belas melodias já composta por Yokoyama (e interpretada brilhantemente por Yumi Matsuzawa), é uma das poucas canções que compõem a trilha sonora de um episódio em sua versão original com voz. Geralmente, quando isso acontece, utilizam uma versão instrumental. E o impacto dela na cena é algo verdadeiramente sublime e marcante, como você pode acompanhar no vídeo acima. 

Blue Dream

Blue Dream é uma das músicas mais tristes de todo o anime. Sua primeira aparição cantada foi como música de encerramento da saga de Poseidon (com uma versão dublada de doer), mas a melodia já tinha dado o ar de sua graça no formato instrumental em momentos derradeiros durante os episódios. A canção ficou marcada a ferro quente nas peles dos fãs na saga de Hades, ela foi a música que sonorizou o sacrifício dos 12 Cavaleiros de Ouro reunidos para derrubarem o Muro das Lamentações dentro do castelo do deus do mundo dos mortos. Abrindo passagem para que “Seiya e os outros” (rs!) pudessem salvar Athena nos Campos Elísios. Blue Dream ainda faz escorrer uma lágrima desses olhos… No vídeo acima tem duas versões da música, a primeira mais utilizada nas sagas clássicas e a segunda na saga de Hades.

Espero que o texto e as músicas deste post tenham despertado algo de sua memória auditiva, e que ela possa ter te teletransportado mentalmente diretamente à época em que você assistia Cavaleiros do Zodíaco. Bem, reitero a importância de respeitar a essência do anime clássico nessas novas produções, e que não sejam mais uma aberração como aquela versão 3D que passou nos cinemas recentemente. Anseio por escrever mais sobre Cavaleiros do Zodíaco aqui no Tarja, quem sabe o que o futuro nos aguarda. Será que uma destas músicas se comunicou diretamente contigo? Deixe nos comentários qual foi ou cite uma outra música marcante para você que eu não tenha citado nesse texto.

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Daniel Gustavo

O destino é inexorável.

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