Essa foi a segunda vez que li esta obra, da escritora canadense Sara Gruen e, com o tempo, parece até que ela ficou melhor. E tempo é uma das palavras-chave desse livro. Nele, conhecemos a história de Jacob Jankowski, um senhor de 93 anos, internado em uma casa de repouso. Através de flashes de memória, ele próprio nos conta como sua vida mudou drasticamente do dia para a noite, há 70 anos, ocasião em que ele se apaixonou duplamente: primeiro pela mulher da sua vida e, depois, por uma elefanta atrapalhada.
Aos 23 anos, em pleno início da Grande Depressão americana, Jacob perde seus pais em um acidente, ficando sem nada. Desnorteado, ele larga a faculdade de veterinária e pula no trem O Esquadrão Voador do Circo Irmãos Benzini, o Maior Espetáculo da Terra.
Dentro do espetáculo, a leitura se torna muito mais interessante, pois temos a chance de conhecer os bastidores, o que faz com que a história não seja apenas mais um “romance-impossível-que-supera-todas-as-barreiras”. O circo é uma pequena sociedade dividida em classes, com os trabalhadores não se misturando com os artistas e estes respondendo apenas ao gerente geral, nesse caso, o ganancioso e mau caráter Tio Al. Esse contexto serviu para moldar personagens pelos quais nos apaixonamos e outros que desejamos ver mortos.
Entre os principais coadjuvantes está o palhaço anão Kinko, chamado pelos amigos de Walter. Sua relação com Jacob é problemática no início, porém os problemas pelos quais passam acabam aproximando os dois. Há também o velho Camel que, quando não está bebendo, gostaria de estar. E o grande antagonista August, o chefe do setor dos animais, um homem ambíguo com um transtorno de personalidade.
Jacob acaba se apaixonando por Marlena, mulher de August. E se afeiçoando de maneira inexplicável à Rose, uma elefanta que aparentemente não consegue fazer nada direito, mas no fundo é mais inteligente do que qualquer outro personagem da trama. Esse triângulo amoroso improvável vai tomando forma até finalmente ter um desfecho surpreendente pela forma como aconteceu.
O livro vai alternando os momentos do passado turbulento de Jacob com seu duro presente na casa de repouso. Essas transições vão mostrando o quanto o tempo pode ser cruel em alguns momentos e o quanto pode ser caridoso em outros. E, também, até que ponto podemos tentar enganá-lo para prosseguirmos com nossa vida como a conhecíamos até um instante atrás.
Enfim, Água Para Elefantes não se enquadra nos livros de romance convencionais. Depois de encerrada a leitura, percebemos que tudo em nossas vidas pode mudar de uma hora pra outra sem o nosso consentimento, mas que também podemos fazer nossas próprias escolhas para darmos o próximo passo.
Adicione este livro à sua estante!