Histórias de terror que envolvem hospícios já são clássicas deste gênero. Parece que a instituição de saúde mental é o novo castelo assombrado para esse tipo de obra. Esse ano mesmo eu já fiz a crítica de um filme que trabalha com esse tema (O Instituto), e em diversas outras mídias temos histórias que se passam nesse ambiente. Até nos quadrinhos de super-herói mais clássicos nós temos essa abordagem, como nas histórias do Batman no icônico Asilo de Arkham. Assim, Eloise é mais um desses filmes que tinha de tudo para ser só mais um filme como todos os outros, principalmente quando lemos sua sinopse, mas ele consegue fazer verdadeiras surpresas, mesmo tropeçando em um monte de erros de direção.

Jacob está em graves problemas financeiros e acaba recebendo a notícia de que seu pai acaba de morrer. À princípio, a notícia não o abala tanto, mas assim que descobre que uma enorme fortuna foi deixada para ele a situação muda. Para poder receber a herança, ele precisa comprovar que uma tia sua está de fato morta, mas para tal será necessário invadir o hospício Eloise, onde essa tia estava internada. O problema é que o hospício Eloise está desativado desde um grande incêndio.

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O primeiro ato do filme é bem interessante, pois ele realmente se preocupa em dar uma motivação para todos os personagens que vão entrar no hospício. O pequeno grupo que se forma para essa missão é bem estabelecido no que diz respeito ao porque deles estarem fazendo essa incursão. O grande problema é que três deles são bastante rasos, à princípio, e até bem estereotipados. Jacob (interpretado pro Chace Crawford) é o típico galã, meio bad boy e meio unidimensional. Dell (interpretado por Brandon T. Jackson) é a visão preconceituosa do “negro ladrão”, cheio de gírias e amigo do protagonista branco, claramente o personagem mais mal pensado de todo o filme. Scott é um aficionado pela história do hospício, mas que claramente tem problemas mentais e precisa dos cuidados de sua irmã Pia (interpretada por Elisa Dushku), que acaba acompanhando o irmão para que ele não se machuque. P.J Byrne é o ator que faz Scott e que realmente se preocupou em colocar trejeitos típicos de pessoas que possuem alguma desordem mental, mas por vezes o roteiro o coloca como alivio cômico de forma muito pouco sensível.

Quando entramos no hospício, finalmente, o filme corria o grande risco de cair num festival de clichês. Já no primeiro ato, o filme é repleto de sustos baratos e uma alucinação aleatória. Já nesse segundo ato, as alucinações começam a ter mais propósito, mas ainda assim o conceito delas se confunde. Uma hora alguns personagens alucinam do nada, enquanto que em outras vezes o fazem devido à drogas e cosias do tipo. Além disso, temos luzes piscando e crianças fantasmas padrão. Nesse momento você pensa “estou vendo só mais um filme de terror padrão”.

É na metade do filme para frente que temos uma reviravolta e o filme revela o seu verdadeiro propósito. Começa uma sequência de revelações que vão prendendo a sua atenção. Saímos de um filme de terror padrão para uma investigação que nos apresenta descobertas substanciais. Percebemos nesse momento que o roteirista Christopher Borrelli estava entregando um roteiro muito bem pensado desde seu começo. Algo realmente interessante, inesperado e criativo. O problema é que o grande vilão deste filme é o diretor: Robert Legato. Como diretor, ele não tem nada de muito relevante em sua carreira (tirando um episódio de Star Trek: Deep Space Nine), mas uma careira relevante em efeitos especiais em filmes como Titanic, A Invenção de Hugo Cabret e o live-action de Mogli. O grande problema de Lagato está na narrativa. Ele acelera muito em momentos e deixa escapar diversos detalhes relevantes, devido aos seus saltos bruscos de uma cena para outra. Esse é um filme confuso em seus acontecimentos e precisa de uma narrativa visual atenta e cuidadosa, e Lagato faz tudo de forma meio corrida e com pouco cuidado.

No fim, temos um filme surpreendente, mas que não atinge seu potencial devido à falta de experiência narrativa do diretor. Não posso dizer também que o roteiro de Borrelli é impecável, justamente pelo péssimo personagem que é Dell e o que é feito com ele. Mas, apesar disso tudo, é um filme que merece ser visto para quem gosta de surpresas.

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Raul Martins

Autor dos livros Cabeça do Embaixador e Onde os sonhos se realizam

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