Há alguns anos o mundo da gastronomia ficou bastante em evidência no Brasil. Isso se deu pela popularização do conceito de food truck pelo país e programas como Masterchef. O brasileiro médio subitamente tomou um gosto pela gastronomia mais elaborada e realmente deseja entender mais profundamente sobre essa arte. Justamente tentando aproveitar o tema em alta surge o filme Gosto Se Discute que coloca em conflito os antigos conceitos sobre gastronomia com as novas tendências.

Augusto (Cássio Gabus) possui um restaurante com graves problemas financeiros. Além de ser considerado ultrapassado frente a moda dos food trucks, o chef percebe que seu paladar está sumindo. Para coroar o caos, uma funcionária do banco, que possui parte do seu restaurante, começa a interferir no dia a dia do trabalho na tentativa de salvar o estabelecimento de ser fechado.

Esse vai ser mais um título que entrará para a longa lista de filmes nacionais que possuíam potencial. O personagem interpretado Cássio Gabus tem tudo para ser interessante. Um chef de cozinha rebelde que se recusa a se render ao o que ele julga ser modismos modernos, e tem uma posição rígida sobre o que ele deseja fazer em sua cozinha. Mas a coisa mais importante para a sua carreira (o paladar) some de uma hora para a outra. Imagine que bela história pode ser contada com essa premissa. O problema é que a direção e o próprio roteiro não mergulham em todas as possibilidades que a história possui.

Chega a ser impressionante como as interpretações de Cássio e de Kéfera (a funcionária do banco) estão ruins. A entrega das falas é incrivelmente artificial durante todo o filme. O impressionante é que ambos já mostraram carisma em outros trabalhos e esferas artísticas, mas nesse projeto em especifico estão ruins. Falas robóticas, sem veracidade e é quase possível ver cada palavra perfeitamente decorada do roteiro sendo ditada de forma decorada. De modo geral, todos estão assim, tirando um secundário caricato ou outro.

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A história é uma comedia com ares românticos. Ao mesmo tempo em que não é escrachada, acaba também sendo um tanto sem graça. Falta uma identidade no filme em todos os sentidos. A direção não aproveita em nada o tom rebelde e contestador do seu protagonista e nem o drama que ele vive. A relação entre os dois atores principais é mal trabalhada e não possui química nenhuma. A história tenta discutir os modismos atuais da cozinha e chega a defender a culinária mais tradicional, algo que poderia ser muito interessante se não fosse completamente raso, além de fazer dicotomias bobas como “food truck é tudo palhaçada” e “é tudo modinha de gringo”.

O roteiro fica por conta de André Pellenz, que possui um currículo interessante com obras como “Minha Mãe É Uma Peça” e o programa “220 volts”, além dos filmes infantis dos “Detetives do Prédio Azul”. Aqui faltou identidade de sua parte, coisa que já fica evidente na abertura do filme, que se resume a uma típica tomada aérea com os nomes dos atores em letras gigantes. Faltou também uma direção de atores na tentativa de achar interpretações mais naturais, principalmente dos dois protagonistas.

O filme possui um tema interessante e um personagem central cheio de potencial, mas falta vontade real de contar essa história. Um roteiro um pouco mais aprofundado  e que realmente aborde a gastronomia e suas diferentes vertentes. Kéfera faz uma antagonista/protagonista interessante, mas muito simplista que também possui ótimo potencial como personagem e com o carisma dela poderia ter sido um trabalho marcante.

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Raul Martins

Autor dos livros Cabeça do Embaixador e Onde os sonhos se realizam

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