Preciso admitir que nunca fui muito fã do Guy Ritchie. Sua direção possuiu técnicas impressionantes e cenas de ação incríveis, mas as histórias nunca me cativaram muito. Suas duas adaptações de Sherlock Holmes não entendem o personagem, seu filme do rei Arthur é esquecível e até mesmo seu aclamado Snatch: Porcos e Diamantes não fez minha cabeça. O único filme que achei minimamente interessante foi seu remake de Aladdin e mesmo assim não é algo notável. Quando fui assistir o seu último filme achei que seria mais um longa para entrar para essa lista, mas estava enganado.

Magnatas do Crime é sobre uma intrincada rede de crime organizado que vende maconha de alta qualidade pela Inglaterra. Uma trama cheia de personagens que se entrelaçam numa teia de eventos que envolvem traições, complôs e alianças entre diferentes grupos.

O que mais chama atenção nesse filme é seu complexo e muito bem construído roteiro. Os três nomes que o assinam são do próprio Guy Ritchie, Ivan Atkinson e Marn Davies sendo que esses dois últimos nunca trabalharam com roteiro antes. É o tipo de história que vai e volta no tempo e é cheio de reviravoltas. De certa forma lembra os bons filmes de crime do Martin Scorsese.

O elenco também é de peso com nomes como Matthew McConaughey (que é o que mais se aproxima de um protagonista), Charlie Hunnam, Colin Farrell e Hugh Grant, sendo que esse último está em um dos seus melhores papéis, por mais que seja um personagem mais secundário, porém surpreendentemente ativo na trama. Como já deu para perceber esse é um filme que foca muito em personagens masculinos e até se esforça em criar uma figura feminina relevante, mas fracassa apesar do esforço da atriz Michelle Dockery.

Esse é o tipo de filme que parece um jogo de xadrez entre os personagens, que sempre desejam estar um passo a frente dos seus inimigos. O tom de modo geral é violento, mas existe bastante espaço para um humor negro bem feito. Os diálogos são ótimos, principalmente os ditos pelo personagem de Hugh Grant. Tudo soa bastante elegante mesmo que os seus personagens não o sejam de forma propriamente dita.

Talvez os únicos problemas do roteiro é por vezes se desviar muito da trama principal e a participação feminina. Nesse primeiro ponto acredito que é natural que o filme cheio de núcleos tenha esse desvio por vezes desnecessário. Mas no final é preciso admitir que tudo se amarra no fim. Sobre as mulheres: esse problema de como elas são retratadas fica bem evidente como a personagem de Dockery é utilizada como instrumento de roteiro em determinado ponto.

A forma como a distribuição da maconha é feita nem chega a ser o foco da criminalidade do filme e sim na briga entre os criminosos, quase como uma espécie de intriga palaciana moderna. Existe bastante coragem na forma como determinados membros da nobreza são retratados, algo que nunca vi em nenhum outro filme britânico contemporâneo. Não chega a ser nada muito subversivo, mas cruelmente realista sobre uma determinada realidade dessa elite social. 

Em minha opinião esse é o seu melhor filme, mas certamente a maioria deve discordar e colocar Snatch e Jogos, Trapaças e Dois Canos Fumegantes nesse lugar, o que é completamente compreensível. Mas se você é fã do diretor é obrigatório e se curte filmes de criminalidade vai ser uma grande diversão.

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Raul Martins

Autor dos livros Cabeça do Embaixador e Onde os sonhos se realizam

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