Em 7 de junho de 2017, a equipe do Tarja Nerd conferiu duas estreias super importantes. A primeira foi a inauguração da mais nova sala interativa de cinema 4DX, projeto este que foi trazido para terras tupiniquins pela UCI Cinemas com a promessa de levar o espectador para dentro filme do modo mais intenso possível. A segunda foi a do filme A Múmia, remake estrelado por Tom Cruise que abriu os portões da Universal Studios pra trazer de volta o seu tão celebrado universo de monstros.
No começo dos anos 30, a Universal resolveu investir em adaptações da literatura para as telonas, e o primeiro da lista foi ninguém menos que Drácula, eternizado pelo fantástico ator romeno Bela Lugosi (isso mesmo, é Bela, com A, mas é nome masculino). O filme passou por problemas seríssimos de produção, pois cinema falado era uma novidade na época e também custava caro, principalmente se considerarmos que o mundo ocidental ainda sentia os efeitos da crise de 29. O jeito, então, foi fazer um filme com poucas falas e investir pesado nas atuações, estratégias que deram certo. Depois do vampirão, que anos mais tarde foi incorporado ao universo dos games na franquia Castlevania, a Universal também trouxe para as telonas monstros como Frankenstein (e mais tarde a noiva dele), o Monstro da Lagoa Negra, Lobisomem, e, figurando este panteão, também está a Múmia, estrelado em 1932 por Boris Karloff.
A película de 1932 conta a história de um grupo de arqueólogos que descobre a tumba do príncipe egípcio Imhotep, que é acidentalmente trazido de volta à vida e, depois de escapar da tutela do grupo de pesquisadores, parte em busca da mulher que acredita ser a reencarnação de sua amada. Esta sinopse foi de sobremaneira aproveitada pelo remake de 1999, com algumas diferenças. Com a proposta de fazer um filme basicamente de ação e aventura, o foco da narrativa não foi a figura de Imhotep (Billy Zane), e sim a do arqueólogo Rick O’Connel, interpretado por Brendan Fraser. Mas deixemos o remake de 1999 enterrado nas areias do deserto e falemos sobre o de 2017.
Filme inaugural do chamado Dark Universe, a proposta da Universal Studios é criar um universo compartilhado para seus monstros, concorrendo diretamente com os universos compartilhados dos super-heróis da Marvel (já consagrado nas telonas) e da DC (que ainda está galgando seu espaço). Aliás, a própria escolha do nome Dark Universe já tinha dado o que falar antes mesmo da estreia de A Múmia (clique aqui e veja porquê).
O remake estrelado por Tom Cruise apresenta Nick Norton (Cruise) e seu amigo Chris Vail (Jake Johnson), que atuam primeiro como soldados de reconhecimento no Iraque, e também como ladrões de artefatos arqueológicos, pra depois revendê-los no mercado negro (isso se os terroristas não destruírem os artefatos antes). Os dois acompanham a arqueóloga Jenny Halsey (Annabelle Wallis), que acidentalmente descobrem uma tumba que, ao que tudo indica, parece ser da princesa egípcia Ahmanet (Sofia Boutella). Depois de trazerem a múmia para a Inglaterra, e trazerem-na de volta à vida também acidentalmente, Nick e a dra. Halsey correm contra o tempo para impedir que a múmia conclua um ritual que pretende dar vida ao Mal em si, ao mesmo tempo em que descobrem ser nada mais que peças no tabuleiro de um jogo muito maior, comandado por um renomado médico, e também advogado, chamado Henry Jekyll (Russell Crowe).
Ok, vamos aos erros e aos acertos…
Pra começo de conversa, o roteiro e a execução do filme, como é de se imaginar, tem problemas sérios. Uma múmia egípcia, encontrada no atual Iraque, que é a antiga Mesopotâmia, e depois é levada para a Inglaterra contemporânea, e ainda há menções aos cavaleiros das Cruzadas… Really?! Não há qualquer preocupação com espaço e tempo neste longa (Einstein ficaria muito do P da vida!).
Por ser um fanfarrão declarado desde o início, o personagem de Tom Cruise coloca alívios cômicos desnecessários, bem na hora em que o filme está tentando criar uma atmosfera de suspense e até de terror, como é o caso da cena da descoberta da tumba. Os demais personagens acabam exercendo a função de cumprir tabela, com uma breve ressalva para Russell Crowe, que tentou imprimir sua marca nos trejeitos de Dr. Jekyll/Mr. Hyde, e uma ressalva mais significativa para Sofia Boutella. Um mérito do filme, tenho que reconhecer, foi a ideia de fazer uma mulher encarnar a múmia, e o filme teve certo êxito nesse quesito ao combinar monstruosidade e sensualidade, ao mesmo tempo em que usou algumas falas em idioma egípcio.
A parte mais divertida do filme foi identificar os Easter-Eggs que faziam menção aos demais monstros que futuramente aparecerão no Dark Universe. A Múmia também tem boas sequências de ação, com uma fotografia que cumpre o seu papel, apesar de a trilha sonora ter sido bastante apagada. Mas o que realmente fez as cenas de ação valerem a pena foram os efeitos proporcionados pela sala interativa 4DX da UCI. A sala 4DX proporciona efeitos como vibrações de cadeira, ventos, luzes, fumaça, bolhas de água (você pode desativar essa opção se quiser, pressionando o botão “water”), e outros.
Numa das cenas de maior ação do filme, os protagonistas passam por apuros durante um vôo. A queda e os rodopios do avião fazem a cadeira acompanhar o movimento; ao passar em meio às nuvens, uma breve fumaça é liberada próxima à tela, ao mesmo tempo em que gotículas são jogadas do alto; a queda de um raio faz com que flashes se acendam; por fim, a queda do avião sacoleja todas as cadeiras. Ufa! Uma verdadeira montanha-russa cinematográfica, a sala 4DX mostrou a que veio e agradou o público, com uma brevíssima ressalva de os jatos de ar próximos aos ouvidos para emular tiros, por exemplo, causarem certo desconforto inicial. E que, por falar em desconforto, é recomendável consultar um médico antes, caso tenha problemas de saúde relacionados ao equilíbrio, como labirintite, e também problemas cardíacos, porque os sacolejos cumprem e bem o seu papel! Imagine ver um filme de Star Trek numa sala dessas… Você vai se sentir o próprio Capitão Kirk na cadeira de comando! Do mesmo modo, é válido dizer que é melhor deixar a pipoca e o refrigerante para antes, ou para depois do filme, porque, apesar de possuírem os habituais lugares nos braços do assento para colocar o copo de refri, é bem provável que os sacolejos da cadeira ponham sua pipoca e seu refrigerante a perder. Ao final da sessão, a conclusão foi que não há dúvidas de que os recursos da sala 4DX podem, ao final, fazer com que o público recepcione um determinado filme de modo muito mais positivo do que se o mesmo fosse visto numa sala comum.
Apesar das boas sequências de ação, completamente turbinadas pela dinâmica da sala 4DX da UCI, o filme até proporciona um entretenimento OK, mas pisa na bola miseravelmente ao executar um roteiro problemático e construir seus personagens, onde estes últimos deveriam ser justamente a cereja do bolo do Dark Universe. Esperemos que os filmes futuros aprendam com os erros deste remake inaugural, reinventando os monstros consagrados do panteão da Universal sem deixar com que a essência deles se perca.