Filmes de esportes geralmente flertam muito com o drama devido à conexão com a superação. Na verdade, esse tipo de filme existe desde a origem do cinema com Campeão no Boxe realizado por Charles Chaplin. Em seguida temos títulos incontáveis como Rocky, Touro Indomável e outros mais recentes como Eu, Tonya. Agora Ben Affleck protagoniza mais um desses longas interpretando um técnico de basquete do ensino médio em O Caminho de Volta.

Jack sofre de um caso grave de alcoolismo, mas recebe a oportunidade de se tornar técnico do time de basquete que ele brilhou em sua época de ensino médio. Mas além de superar seu problema com bebida ele precisa lidar com alguns traumas do seu passado.

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O que mais me chamou atenção foi o fato de que Ben Affleck sofreu um caso sério de alcoolismo há pouco tempo. Obviamente ele traz muito de seu sofrimento pessoal para esse personagem, o que se reflete numa atuação primorosa e que não apela para momentos baratos. Tudo é muito honesto e visceral. Você não verá gritos e choros espalhafatosos. O tom geral é bem contido e introspectivo.

De maneira geral esse é um filme muito mais focado no drama do protagonista do que na temática de esporte. Quem vai para esse filme buscando uma história sobre basquete talvez se decepcionando um pouco. Mas não significa que este seja um filme ruim. Ele é bem competente em te fazer torcer pela recuperação do personagem e por tabela se importar pelo desempenho do time que ele treina, mesmo que de forma secundária.

Os dois problemas desse filme estão nos personagens que montam o time. Nem todos possuem uma personalidade e a maioria é definida por uma única característica. O conflito que faz a transição do segundo para o terceiro ato é fraca e claramente necessitava de algo mais impactante para causar a transição rumo ao clímax. O final também pode dividir opiniões, mas entrega uma conclusão para os arcos apresentados.

Para quem já viu muitos filmes com essa temática talvez sinta que não exista nada de novo aqui, e de certa forma isso é verdade. Porém, mesmo assim esse é um filme competente. Mesmo se calcando em diversos clichês ele os executa bem. Tanto o diretor Gavin O’Connor, quanto o roteirista Brad Ingelsby, possuem a sensibilidade necessária para tratar desse e outros assuntos sérios que vemos nessa história.

Fica o aviso: esse é um filme de clima pesado e bem triste, e não só pelo alcoolismo. Se for assistir esteja preparado para momentos que realmente podem tocar em lembranças e experiências pessoais que causam dor. Mas acredito que não seja nada excessivamente traumático desde que saiba que o filme irá conter tais temas. Filmes como esse nos fazem lembrar o verdadeiro talento de Ben Affleck, mesmo que em diversos filmes ele não dê o máximo de si.

O Caminho de Volta relembra que histórias de superação e de esportes sempre existiram. Existe algo no imaginário coletivo que sempre nós toca quando vemos uma narrativa desse tipo. De modo geral nós humanos temos a tendência de torcer e estar sempre buscando conexão com o próximo, e é justamente por isso que contamos historias. Quando se trata de uma história sobre esporte é como se essa vontade de torcer fosse multiplicada por dois. Queremos torcer pelo protagonista e pelo esportista que ele representa. Esse filme pode não ter nada de novo nesse tipo de história, mas não significa que nós não iremos querer vê-la. 

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Raul Martins

Autor dos livros Cabeça do Embaixador e Onde os sonhos se realizam

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