Basicamente, o que diferencia o herói do vilão são suas escolhas e atitudes. Enquanto um segue em direção à luz, o seu oposto trilha pelas sombras. No entanto, a linha que separa esses lados nem sempre é tão clara para todos. É através desse olhar sobre as relações entre bem e o mal que a leitura de A Sombra da Inocência, de M. M. Schweitzer, nos leva a refletir.
Na trama, conhecemos Kuro, um Coelho atormentado pelo abandono da mãe e pelo tratamento violento de seu Pai. Seus problemas se tornam pesadelos quando um predador de sombras descobre o caminho para sua casa e ameaça destruir o seu lar.
Assim como em O Mercador dos Sonhos, esse conto também pertence ao universo de Morserus e pode ser lido de forma independente. Ainda sobre as relações entre ambos, vale dizer que as duas histórias trazem animais com características humanas, tratam de traumas familiares além de questões sobre sonhos e memórias. Apesar disso, engana-se quem pensa que em A Sombra da Inocência o leitor encontrará mais do mesmo. Aqui, o autor utiliza os coelhos Kuro e Aito para falar sobre as consequências de nossas escolhas e como elas nos definem durante a vida.
“– Não Coelho, tudo que temos, tudo que somos são as escolhas que fazemos. O resto, o céu e a terra, o vento e a água, a vida e a morte, são apenas os sonhos de nossos sonhos.”
Sobre esses personagens, fica a observação de que são “crianças” inseridas em um contexto no qual a violência é algo de certo modo comum. Por isso, essa história não é de forma alguma recomendada para o público infantil. Também vale ressaltar que temas como alcoolismo, depressão e tendência suicida são abordados neste conto. Desse modo, mesmo que os acontecimentos sejam fora da nossa realidade a forma como os coelhos lidam com eles é totalmente humana. Talvez seja por esse motivo que a reflexão propiciada pela leitura seja profunda e diversa.
É o caso do pai dos coelhos que em boa parte da sua vida foi considerado um herói. Com o tempo, essa figura tida como lendária entrou em decadência até se tornar um ser capaz de gerar violência física e psicológica em seus filhos. Isso é feito quando ele os treina para lutar, mesmo que os impeça de sair para o mundo. É nesse momento que vemos Kuro se tornando um exemplo de quem colhe os frutos do seu ódio pele vida enquanto Aito, mesmo sofrendo, prefere ter pensamentos felizes e uma filosofia mais otimista. Quando eles têm suas habilidades colocadas em cheque, algo terrível acontece e chega o momento em que realmente se encontra uma definição mais ampla de suas personalidades.
Como se isso não fosse o bastante, A Sombra da Inocência ainda encerra o arco dos irmãos de forma aberta para concluirmos por conta própria. Esse detalhe faz toda diferença para o conto que mais uma vez surpreende com seu resultado final. Do mesmo modo como ocorre com O Mercador de Sonhos, este também é um ótimo ponto de partida para conhecer este universo fantástico criado por M. M. Schweitzer.
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