A temática zumbi está mais do que na moda, aliás, já esteve tanto na moda recentemente que hoje em dia parece que ela está até passando. Desde os clássicos de George Romero que inseriram o conceito de zumbis famintos por cérebros na cultura pop, provavelmente nunca tivemos tantas obras baseadas em mortos-vivos devido ao sucesso de The Walking Dead. E de lá pra cá muita coisa foi feita e reinventada, tendo até livros com dicas de como sobreviver ao apocalipse zumbi. O próprio TWD é uma mostra de como esse gênero pode ser re-imaginado, mostrando grandes dramas humanos e sociais com o ataque dos mortos vivos apenas como background. Na carona dessa onda, a Netflix também se interessou, até tardiamente, em fazer algo do gênero, e assim surgiu Santa Clarita Diet.
O nome super sugestivo e diferenciado já mostra o bom conceito dos criadores da série para abordar o tema. Como falei anteriormente, vivemos uma overdose de obras sobre zumbis, o que provavelmente pode estar esgotando o interesse do público em geral sobre o tema, mas Santa Clarita Diet mostra que com o bom uso da criatividade, pode-se fazer uma boa produção e destacar-se no oceano de mais do mesmo de “undeads”. Com uma veia extremamente humorística a série explora clichês de todos os tipos, subvertendo-os para algo inesperado, onde o advento “zumbi” altera todo o funcionamento de uma família regular americana.
Sheila (Drew Barrymore) e Joel (Timothy Olyphant) são marido e mulher, corretores de imóveis um pouco descontentes com suas pacatas vidas em Santa Clarita, no subúrbio de Los Angeles, com uma filha adolescente, Abby (Liv Hewnson). Depois de alguns percalços que a leva à morte, Sheila retorna a vida de forma diferente, agora além de retomar o gosto e prazer pela vida, mudando sua atitude perante o mundo, ela desperta um gosto alimentar particular e descobre-se uma zumbi. Coisa esta que afeta todo funcionamento e relacionamento de sua família, que a partir daí precisa não só manter o segredo, como também sustentar a dieta a base de humanos da mãe e esposa.
Trazendo todo este conflito familiar e social, Santa Clarita Diet brinca com elementos clássicos de histórias de zumbis, pervertendo-os comicamente, principalmente ao vermos o relacionamento do casal vivendo essa louca experiência. Aqui que entra o belo trabalho de Oliphant como Joel, o personagem que nos permite experienciar de uma forma um pouco mais pessoal aquela história, fazendo-nos pensar: “E se isso acontecesse com minha esposa(o), o que eu faria?”.
Ao vermos Drew Barrymore pulando em cima do garanhão do trabalho, dilacerando suas entranhas, gera uma cena não só conflituosa na cabeça do espectador, como também engraçada. E é assim que o humor trabalha nesta série. Não existe grande rebuscamento em seu roteiro a grosso modo, onde temos simplórios elementos como quadros de pinturas de rituais eslavos, vizinhas infelizes, policiais corruptos e romance adolescente. Uma trama simples e até ingênua que brinca com miolos, dedos caindo e corpos no freezer. Drew mostra-se competente na série, porém visivelmente sem entregar muito de si no papel, coisa que não afeta a produção como num todo, que vive de sua própria extrapolação de conceitos do gênero de zumbi e de comédia padrão, como a filha adolescente rebelde, o amigo nerd, o vizinho chato e enxerido, o segredo perante a comunidade, e, claro, a busca pela explicação do porquê de aquilo estar acontecendo.
Colocando tudo isso no caldeirão, Santa Clarita Diet consegue ser divertido e interessante ao mostrar contrastes que exploram conceitos batidos dentro de um roteiro água com açúcar. Contando com 10 episódios de 29 minutos em sua primeira temporada, a série da Netflix é uma boa pedida se você quer ver algo comicamente diferente e simples, sem muito compromisso.