Se você pegar uma revista em quadrinho dos anos 40 e uma que saiu mês passado certamente verá o salto gigantesco na evolução artística. Tanto na arte, quanto nos roteiros, tudo mudou muito. As imagens ficaram mais detalhistas, tramas mais complexas, colorização digital, sagas que duram um ano inteiro e um monte de técnicas, formatos e estilos diferentes que foram surgindo ao longo das décadas. Entretanto, nesse meio tempo, algumas das inovações ficaram para trás ou simplesmente foram modas temporárias, perdendo-se na linha do tempo. Nesta lista elencamos alguns desses elementos que não sobreviveram ao crítico e severo tempo.

Colagens

Apesar de ser uma técnica que pode ser achada aqui e ali, ela não é das mais comuns. Fotos reais recortadas junto com desenhos é uma técnica, que quando bem usada, gera efeitos bem interessantes, mas de modo geral é difícil encontrar bons exemplos e abundantes. A lenda Jack Kirby tentou fazer uso da colagem em sua fase dourada no Quarteto Fantástico e no casamento de Reed e Sue. Na Fantastc Four Annual 3 temos o que seria “uma foto da quarta dimensão”  para simbolizar uma viagem dimensional. Visualmente é bem bacana, mas a prática não se consolidou no meio artístico.  

Quadrinhos 3D

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O mundo do entretenimento como um todo tem um fascínio com os “D’s” de modo geral. Cinema 3D, 4D, 5D e por aí vai. A um bom tempo os quadrinhos tentaram adentrar nesse meio e fazer imagens que saltassem das paginas. Aqueles clássicos óculos de papel com lentes azuis e vermelhas era utilizado para gerar o efeito padrão. O pioneiro nessa tendência foi Joe Kubert, uma lenda do mundo dos quadrinhos. O desenhista acreditava que esse era o futuro dos quadrinhos e de fato foi bem sucedido na edição de Super-Mouse em 1953, mas o conceito como um todo nunca vingou. Além de deixar as revistas mais caras do que revistas normais o valor a mais não valia o efeito, que logo ficava mundano conforme você lia mais histórias nesse formato.

Votação por telefone

Todo o fã de quadrinhos que se preze conhece a clássica história da morte do segundo Robin. O parceiro de Batman foi pego numa armadilha pelo Coringa e sua própria mãe, sendo espancado até o mais amargo fim. No fim da história havia um número onde o leitor poderia ligar para a DC e votar se o personagem sobrevivia ou morria, no melhor estilo Big Brother. Apesar de esse ser um evento conhecido no mundo dos quadrinhos, isso não aconteceu outras vezes. Mais tarde se descobriu que um mesmo número ligou diversas vezes para votar no numero que mataria o personagem Robin. Com a chegada da internet a interação com os fãs se tornou mais orgânica e o telefone em si se tornou obsoleto. Hoje em dia as editoras preferem tomar essas decisões em segredo para gerar surpresa do que decidir os leitores escolherem os rumos dos personagens.

A estética dos anos 90

Se os anos 80 marcaram o fim da inocência dos quadrinhos e o surgimento das obras sombrias, realistas e cínicas, os anos 90 tentou condensar tudo isso com uma boa dose de esteroides, roupas ridículas e muita violência. Foi nesse período que tivemos o surgimento da editora Image e desenhistas que acabaram ficando famosos por serem péssimos. O estilo do período ficou tão conhecido por ser exagerado que hoje é visto como uma piada do passado. As páginas ficaram lotadas de mercenários, mulheres fatais com roupas diminutas, soldados cibernéticos e todos eles precisavam ter armas enormes. Obviamente que o universo Marvel e DC também foram atingidos por essa onda, onde tivemos algumas pérolas. Tudo indica que voltarei em breve para fazer uma lista do que pior tivemos nos anos 90.

 Substituição de Personagens Clássicos

Esse é um ponto complicado porque temos exemplos de substituições que foram bem sucedidas, como o Flash original que passou o manto para o Kid Flash que ficou sendo o herói por anos. Entretanto, outros heróis nunca tiveram a mesma sorte como Batman, Homem Aranha, Thor e diversos outros que foram substituídos, mas os novos personagens que assumiram o manto não deram conta do recado. A Marvel recentemente vem tentando substituir seus grandes ícones por versões mais jovens, mas a iniciativa não rendeu bons frutos no geral e nenhum herói clássico foi efetivamente substituído. No máximo tivemos algumas histórias divertidas como da “mulher Thor”, mas nada que redefinisse o personagem. Talvez algum dia nós tenhamos uma substituição completa desses heróis clássicos, mas, até lá, isso ainda é uma ideia que não foi pra frente.


Falar do que não foi é uma tarefa meio engraçada, pois é até mesmo difícil lembrar-se de coisas que não vingaram, e sim o contrário. O revolucionário é sempre mais marcante do que o que foi “quase revolucionário”. Se você lembrar de mais alguma dessas “quase mudanças” deixe nos comentários e vamos relembrar o que o mundo dos quadrinhos deixou para trás.

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Raul Martins

Autor dos livros Cabeça do Embaixador e Onde os sonhos se realizam

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