Por Vanessa Barros

Para ler a parte 6

Ao longo de três anos, ou um pouco mais, o casamento já havia deixado de ser aquele do início. Não por simples desgaste da relação como acontece comumente. Mas os maridos das clientes _ Marina ia tendo a cada dia mais certeza _eram muito mais homens que o seu. “Olha a vida que eles dão pra elas!”  O marido, esforçado ex-pedreiro, agora técnico diplomado e com emprego bastante melhor, continuava a ser o mesmo homem de antes, com a diferença de estar mais satisfeito profissionalmente. Mas se comparado com o que podiam dar às esposas os homens a quem viera a mulher a conhecer no dia a dia profissional, Danilo não tinha chances. Aquelas mulheres ricas eram de fato tão felizes quanto Marina imaginava? Talvez. Mas ela não quis investigar mais profundamente.

            Escravizada pelos novos pensamentos, Marina sentia a cada dia menos apreço por Danilo a ponto de decidir, certo dia, definitivamente, pela separação.  O motivo alegado, de forma insensível e direta, abriu no coração do homem uma ferida que ele não sabia se um dia iria se cicatrizar. Ela rompia por não querer traí-lo, mas queria liberdade para lutar por um homem que tivesse “mais a ver com ela”. Ela merecia muito mais do que possuía ali ao lado dele.

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            Danilo não aceitou de imediato o pedido. Saiu um pouco de si por uns tempos. Sofreu um bocado bom. Dividiu-se entre amor e ódio à esposa. Mas com o tempo, com ajuda e aconselhamento de amigos, admitiu que o caso não tinha solução. O problema não era o que ele havia feito ou não, nem mesmo o que ele era. Mas o que ela era. E com relação a isso, nada, absolutamente nada, ele poderia fazer. A separação aconteceu, deixando Marina livre para buscar o relacionamento que bem entendesse e Danilo achando-se traído, machucado, frustrado, pensando no tempo, nos esforços e nos sentimentos dedicados em vão. 

            Dois anos após o divórcio, estava  Danilo atendendo a um casal de clientes da empresa na qual trabalhava e viu de relance uma mulher muito interessante ao folhear uma velha revista, sentada, aguardando na sala de espera. Não era muito bonita, mas tinha um quê, algo que  chamava muito a sua atenção, sem que ele conseguisse definir direito o que era.

            E era ela a próxima cliente. Ao preencher a ficha da nova cliente, soube que ela era divorciada, tinha dois filhos pré-adolescentes, era autônoma. Tinha curso médio. Não tinha parentes na cidade. E queria, ao investir as economias numa entrada de nova casa, recomeçar a vida. Sem que ele perguntasse, a mulher sentiu-se à vontade para dizer que passara por um relacionamento muito frustrante, com um homem que havia sido bastante desleal para com ela e com os filhos, que vinha trabalhando há bastante tempo fazendo e vendendo bolos e doces, um trabalho cujo lucro junto à pensão que recebia deu-lhe condições de juntar um dinheirinho para fazer algo mais substancial para vida dela e dos filhos. O imóvel onde morava, e que queria vender, ainda era aquele no qual viveu com o ex-marido. Queria deixá-lo, junto com seu passado frustrante. Danilo sentiu-se tímido e não disse o que desejou dizer. Acolheu-a de forma profissional, mas um foi tanto mais acolhedor do que seria com outros clientes. Só tê-la visto ali na sala já o impressionara. Saber posteriormente que ela tinha um passado tão parecido com o seu o fez manter a cliente em seu pensamento e desejar que o dia do próximo atendimento chegasse rápido.

Clique aqui para ler a parte 8

Vanessa Barros (MG) é escritora. Autora dos livros Crônicas a Bordo de um Trem Urbano e  Crônicas a Bordo de um Trem Urbano – A viagem continua. Para conhecer mais sobre o seu trabalho ouça nossa entrevista com ela no Leituracast 11.

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Marcus Alencar

"Palavras importam! Uma morte, uma ondulação e a história mudará em um piscar de olhos"

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