Eu sei que você vai esbarrar em diversos textos nesse estilo pela internet a fora. Mas o que eu vou fazer aqui não é apontar referências nem nada do tipo. Minha preocupação aqui são conceitos que a segunda série implementou. Dizer que eles falam de Mad Max e Exterminador do Futuro nos episódios é interessante, mas apesar de serem óbvios, não são as verdadeiras ideias que a série se baseia para montar sua história. Essa lista quer achar quais foram as obras de onde os irmãos Duffer tiraram os conceitos para criar climas, embates que moveram a segunda temporada. Esse texto só é recomendado para aquele que já viu toda a segunda temporada, pois é possível que eu esbarre em momentos específicos de algum episódio e revele parte da trama geral ou individual de cada personagem. Você foi avisado.
Gremlins (1984)
O terror cômico roteirizado por Chris Columbus é conceitualmente usado no arco de Dustin. Tanto no filme quanto na série temos a criança que se depara com um curioso bichinho fofo que se revela um terrível mostro com potencial assassino. O filme é um clássico dos anos oitenta e sua continuação também foi bastante popular, sendo um dos símbolos deste estranho subgênero que mistura comédia com terror para um público juvenil. Columbus na verdade é um desses nomes que moldaram o estilo dos anos oitenta de se fazer histórias, pois ele também é responsável pelo roteiro do igualmente icônico Goonies que, de certa forma, também é um conceito que costura toda a ideia de Stranger Things. Ele também dirigiu as duas primeiras adaptações de Harry Potter para o cinema, assim como os dois primeiros Esqueceram de Mim.
Aliens – O Resgate (1986)
Da mesma forma que a primeira temporada usou diversas construções de cena e visuais do primeiro filme do Alien, a segunda usou a premissa básica do Alien 2. Se antes um monstro era a grande ameaça, agora temos vários, além de um ser gigantesco que domina todos os outros. De um lado temos os diversos Aliens que são controlados por uma rainha, enquanto na série nós temos os cães meio Demogorgons que são controlados pelo Monstro das Sombras. A ideia de inteligência colmeia é bem comum e, de certa forma, até um clichê nas obras de ficção científica. Só espero que na terceira temporada eles não clonem ninguém que nem no Alien 4.
Akira
Mangá que começou a ser publicado em 1982 e ficou ainda mais conhecido no mundo todo pela animação produzida em 1988, sendo uma das obras de cultura pop japonesa mais conceituada do mundo. Recentemente essa obra começou a ser republicada aqui no Brasil pela editora JBC. Já na primeira temporada muito do conceito de criança usada como experimento do governo já está presente, mas esse conceito evolui quando Eleven conhece outra garota que também ganhou poderes devido a experimentos. Na história japonesa também temos crianças numeradas que ganham estranhos poderes para fins misteriosos envolvendo conspirações. Lembra-te algo?
Os Garotos Perdidos (1987)
Quando vemos o episódio unicamente centrado na Eleven e sua jornada de auto descoberta ela passa um tempo junto de uma gangue com sua irmã de laboratório. Ela é tentada pelo lado sombrio da força assim como o protagonista do filme, que acaba sendo levado por uma gangue de vampiros motoqueiros a fazer atos maléficos. Tanto no visual quanto na ideia, o conceito se repete na série apesar de ser mais aprofundada em Stranger Things.
Arquivo X
Para quem acha que Stranger Things só vive de referências e homenagens aos anos oitenta está muito enganado. Além de ser uma das séries mais populares dos anos noventa, Arquivo X foi uma das maiores revoluções da TV por ter fundamentado o conceito de arco de cada temporada, e o famigerado “continua no próximo episódio”. O simples fato das duas séries tratarem de conspirações do governo já seria o suficiente para fazer um paralelo, mas na segunda temporada temos o arco da Nancy e do Jonathan tentando desmascarar as intrigas do governo com a ajuda de um investigador, no melhor estilo Os Pistoleiros Solitários (grupo que ajudava Mulder a investigar as maiores conspirações que se possa imaginar). Os pistoleiros até tiveram sua própria série fracassada, mas durante o Arquivo X eles eram um elemento fundamental da mitologia.
Stranger Things é o tipo de produto pop que gera um verdadeiro caos na internet, pois todos tentam enumerar cada referência que aparece na tela, mas acredito que, muitas vezes, esse é um exercício feito de forma emburrecedora. Coisas como lista de referências escondidas que colocam o Exterminador do Futuro na lista, sendo que o cartaz do filme recebe um belo zoom, além de termos cenas de Arnold como exterminador de forma totalmente direta. Ou uma nave do Star Wars que é esfregada na sua cara. Acho que o mais divertido desta série é ver como os conceitos clássicos são reutilizados e como vários são encaixados para formar uma grande história e não meros cartazes ou bonequinhos que aparecem vez ou outra.