Se existe um personagem no mundo dos quadrinhos que é extremamente multifacetado é o Batman. Acredito que ele é tão explorado justamente por ter uma premissa tão simples: um garoto vê seus pais morrerem e decide usar sua fortuna para financiar sua luta contra o crime. Justamente por ser uma história simples você poder reformulá-la diversas vezes mudando o formato destes elementos sem ser necessário alterar o conceito geral. Um bom roteirista, ou um minimamente malandro, sabe pegar este personagem e criar sua própria versão do Batman, ou qualquer outro herói. Essa acaba sendo a grande graça das HQ´s: ver o mesmo personagem sobre a visão de diferentes roteiristas. O Batman do Frank Miller, o Batman do Alan Moore, do Neal Adams e por aí vai. Separei aqui uma lista das principais versões mais curiosas e interessantes do Morcego de Gotham. É importante deixar claro que deixei de fora coisas do nível “Cavaleiro das Trevas”, pois mesmo que mostre um Batman do universo alternativo, ele se tornou tão icônico que acabou sendo um dos modelos mais conhecidos do personagem. O objetivo deste post é mostrar coisas mais fora do obvio.

Gotham City 1889 (lançada em 2006)

Já houve uma coleção ótima intitulada “Contos de Batman” onde eram lançadas diversas edições contando histórias pequenas do personagem com liberdade criativa total para repensá-lo. Um dos meus favoritos é essa história, “Gotham City 1889”, onde vemos um Batman bem gótico, atuando nos becos imundos de uma cidade recém construída passando por uma recente revolução industrial. O quadrinho abre com uma carta fictícia de Jack, o estripador, e temos a aparição de Freud. Uma história de investigação e mistério sensacional roteirizada por Brian Augustyn. Uma das coisas mais fantástica são os desenhos de Mike Mignola, o criador de Hellboy. Um Batman totalmente alterado devido ao seu contexto histórico, mas ainda assim o personagem está muito bem escrito e ainda continua sendo ele.

Batman Vampiro (1992)

Publicidade

Tudo começou com uma minissérie de três edições chamada “Chuva Rubra” onde o herói encara uma luta contra Drácula.  Uma história de terror competente com um visual muito bem feito com os desenhos Kelley Jones e Malcolm Jones III e as cores de Les Dorscheid.  O roteiro é de Doug Moench, que trabalhou muito com o Batman. Essas três primeiras edições são bem legais e mostram um Batman que lida muito mais com o sobrenatural. A grande questão são as continuações desta saga que são “Blood Storm” e “Lua de sangue” onde o cavaleiro das trevas vira um vampiro de fato. Para quem é fã do personagem é uma boa história que foge do comum.

Morcego de Aço (1993)

Superman: Morcego de aço” foi uma brincadeira da DC onde Superman e Batman foram misturados num único personagem. A premissa: A nave que carregava o último filho de Kripton é encontrada pelos milionários Wayne, que não podiam ter filhos, adotando o estranho alien. O menino cresce isolado na mansão devido aos seus poderes e quando seus pais morrem o já isolado Bruce enlouquece e decide que irá modificar Gotham com suas capacidades. Assim surge o Batman num mundo onde toda a mitologia do personagem e do Superman são todos misturados em um único mundo. Não é uma mega saga, mas vale à pena para o fã que gosta de ver seus personagens modificados por um exercício criativo. O roteiro é de J.M Dematteis e desenhado por Eduardo Barreto.

Batman do seriado da TV nos quadrinhos (2014)

O seriado dos anos 60 do Batman foi muito responsável pela popularização do personagem, ao mesmo tempo que o deixou muito mais cômico.  O programa foi um grande sucesso quando passou na televisão americana e no ocidente como um todo. Em 2014 a DC teve a brilhante ideia de reviver todo aquele estilo “zoeiro” dos episódios. Assim nasceu a revista mensal “Batman 66” que simplesmente continuava os episódios em formato de quadrinhos com roteiros hilários e ótimos desenhos. Vou dar uma dica especial, aqui no Brasil saiu um encadernado “Batman 66: O episódio perdido”, onde utilizam um roteiro que nunca foi filmado para a série clássica e é transformado em quadrinhos. Seria justamente esse episódio que apresentaria o vilão Duas Caras, que nunca apareceu no programa. Ainda por cima os desenhos foram realizados pelo gênio José Luis García-Lópes.  Atualmente esta mensal foi cancelada nos Estados Unidos e teve alguns encadernados publicados aqui no Brasil, além do que eu falei.

Coruja do Sindicato do Crime (1964)

 A DC sempre trabalhou muito universos paralelos para criar grandes histórias épicas com vários personagens, principalmente com a Liga da Justiça. Versões malignas dos heróis e heroínas são os conceitos mais clássicos, e o “Sindicato do Crime” é a síntese desta ideia clássica. Imagine uma Liga que tem versões malignas de todos os heróis que conhecemos? Lá temos o Coruja, um grande estrategista do mal que era filho do Comissário de polícia de Gotham. Esse grupo de vilões já apareceu diversas vezes em outros formatos, mas Coruja sempre esteve lá como a mente por trás do Sindicato.  Já teve seu momento na ótima animação “Liga da Justiça: Sem Limites”. De modo geral as histórias da Liga contra este grupo são muito boas e valem ser lidas.

Batman Caçador de Monstros (2011)

Antes da reformulação dos Novos 52 havia uma divertida revista chamada “Batman/Superman” onde diversas histórias com a dupla eram feitas. Na edição 81 começa uma saga curiosa onde o universo DC sofre um apocalipse mágico. Todas as criaturas místicas passam a dominar o mundo e o caos impera. Os heróis que lidam com magia passam a ser a última resistência e nela temos Batman que se torna um especialista em caçar criaturas sobrenaturais. A saga foi até a edição 83. Não chega a ser nenhum primor, mas é divertida pela originalidade. É bacana ver o Superman se virando num mundo onde ele não tem mais poderes, afinal ele é tão vulnerável à magia quanto é a kriptonita.  Aqui no Brasil esta história foi publicada na revista universo DC nas edições 21 e 22. O roteiro fica por conta de Cullen Bunn e os desenhos de Chris Cross.

O Batman de Stan Lee (2001)

Eu já escrevi aqui no site sobre curiosidades da vida de Stan Lee e lá expliquei sobre como ele foi convidado para reescrever a origem dos principais heróis da DC. Obviamente que Batman não escapou. Wayne Willians também vem de uma família rica. A diferença está em que ele é um cara negro (uma das poucas vezes que vi um Batman negro, achei bem legal) e vai preso por um crime que não cometeu. Na cadeia ele começa sua preparação para a vingança contra a gangue que o colocou lá. Mas por que ele se auto intitula Batman? Enquanto estava na cadeia um morcego vinha comer restos em sua cela e daí ele tirou a ideia, algo parecido em algumas versões oficias da DC onde um morcego adentra a janela da mansão Wayne. O visual é um dos mais diferentes que já vi. Batman realmente usa uma cabeça realista de morcego e asas de couro.

Batman do Ponto de Ignição (2011)

Esse aqui quase não entrou na lista, pois não é uma história do Batman propriamente dita. Ponto de Ignição é uma saga do Flash que foi utilizada para reformular o universo DC, mas dela nasceu um personagem muito interessante. Thomas Wayne, o pai de Bruce, é o Batman neste universo distorcido. No assalto quem morreu foi Bruce, fazendo com que Thomas caísse numa cruzada contra o crime de forma bem mais violenta do que o Batman que conhecemos. O personagem é bastante importante na saga principal e teve sua história única em uma edição especial.  Nos novos 52 ele sobrevive na revista “Terra 2” que reúne diversos personagens da Sociedade da Justiça.  Como ele teve sua história única numa edição especial além de ter uma abordagem bem bacana em diversas aparições, merece então o seu lugar ao sol desta lista.

Batman como Lanterna Verde (1994)

Segue a mesma ideia de misturar o conceito de Batman com outro herói da DC. Roteiro de Mike Barr e desenhos Jerry Bingham e talvez a pior história desta lista. Está aqui mais pelo inusitado da coisa do que qualquer outra coisa. Em vez de Hall Jordan receber o anel do moribundo Abin Sur, o merecedor se torna Bruce Wayne que ainda estava no início de sua carreira como Batman.  Talvez seu maior erro seja misturar um herói tão urbano e mundano com lutas espaciais dos Lanternas. Sinestro é o grande vilão, da única edição da HQ, que quer vingança pelo fato de Batman ter sido mandado para destituí-lo de seu cargo. As coisas ficam loucas quando Super, Mulher Maravilha e Flash se tornam lanternas também. No universo regular Batman já usou o Anel de Hall por um curtíssimo momento.

Batman Zur-Em-Arrh (1958)

Agora vamos para uma versão mais complicada. Devemos lembrar que os anos 50 foram bem complicadas para os quadrinhos como um todo. O código dos quadrinhos cerceava muito a criatividade dos autores e as possibilidades de temas que podiam ser abordadas. Muita coisa era censurada o que tornou a mídia como um todo bem infantilizada.  Talvez Batman tenha sido um dos que mais sofreu neste processo. Na edição 113 o herói conhece o planeta Zur-Em-Arrh onde existe um sujeito que observou a vida de Batman por um mega telescópio e se tornou fã do cruzado de Gotham. Devido a isso, ele decide imitar Batman e cria uma roupa similar e se torna Batman Zur- Em- Arrh. Certamente essa seria uma história que entraria na lista de coisas bizarras que seriam esquecidas, mas o grande autor Grant Morrison ressuscitou o conceito de Zur- Em- Arrh, só que de forma diferente. Esse Batman seria uma versão psicótica da mente de Bruce, uma história bem confusa na verdade, mas muito interessante. Essa história antiga foi republicada no Brasil numa edição especial intitulada “Batman- arquivo de casos inexplicáveis” que reúne diversas histórias bizarras e divertidas deste período.


Nesta lista eu só coloquei histórias onde o Batman é um protagonista ou co-protagonista. Poderiam entrar aqui o Batman soviético, Batman nazista e muitas outras coisas bem malucas. Outro critério foi a qualidade das histórias. Todas elas merecem seu tempo pois são minimamente interessantes, mesmo que não sejam as ditas obras primas do herói ou clássicos dos quadrinhos.

 

Publicidade
Share.
Raul Martins

Autor dos livros Cabeça do Embaixador e Onde os sonhos se realizam

Exit mobile version