Pascal Laugier vem se estabelecendo há 10 anos no mundo do terror. O diretor francês, nascido em 1971, aborda a temática numa visão diferente da grande maioria das obras do gênero no grande circuito, trazendo a violência mais como um meio do que propriamente um fim. E mesmo utilizando de recursos clássicos do terror, ele consegue em A Casa do Medo promover uma experiência diferenciada para o público, que fica chocado com a violência bizarra e amarrados numa narrativa fora dos padrões.

A Casa do Medo conta a história de Pauline (Mylène Farmer), uma mulher que acaba de herdar uma casa de sua tia e que decide morar lá com suas duas filhas, Beth (Emilia Jones) e Vera (Taylor Hickson). Mas, logo na primeira noite, o lugar é atacado por violentos invasores e Pauline faz de tudo para proteger as crianças. Dezesseis anos depois, as meninas, agora já crescidas, voltam para a casa e se deparam com coisas estranhas.

A trama começa como muitas outras histórias de filme de terror: uma família se muda para uma nova casa desconhecida e cheia de objetos e apetrechos bizarros. As irmãs vivem se engalfinhando e a mãe tenta equilibrar as tensas relações familiares. E logo a casa é invadida por duas figuras bizarras que atacam a família. A partir deste ponto somos colocados dentro de um salto temporal e acabamos por ver as consequências de tal acontecimento. Porém algo muito estranho fica no ar… Chega a ser impactante o nível de violência crua que acontece em A Casa do Medo. Sem sabermos muito de suas motivações ou histórias, os dois vilões do filme surgem como o mal encarnado, com gostos peculiares, e aparências bizarras. Chega até ser forçado o nível de força que um deles tem, dando até um tom sobrenatural neles. Mas no filme a motivação dos vilões faz falta? Não, pois o filme é sobre o acontecimento em si e não sobre eles. E isso acaba deixando-os realmente caracterizados como a força do mal que chega, arrasa e termina sem um “daonde” ou um “porquê” definido.

No longa o que mais incomoda é a relação das irmãs, que além de serem retratadas como adolescentes chatas no início do filme, a trama não constrói uma mudança concreta no nível do relacionamento delas com o passar do tempo. Porém isso não chega a ser um problema real na obra pois esse buraco é preenchido pelo plot twist do filme. Que por sinal é difícil não ser pego por ele. E esse plot twist demarca bem as duas partes do longa, a anterior que é bem clichê e a posterior que, com o espectador já conquistado, brilha bem nas cenas de suspense e violência. E por falar em violência, lembra da visão do diretor citada no começo deste texto?

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Pois bem, a violência apesar de sempre ser violência, em A Casa do Medo ela é um “caminho” para uma dissociação da realidade. Quando tudo é tão ruim que você “prefere” viver uma ilusão dentro de sua cabeça, uma forma de escapismo que a própria consciência humana usa para se defender, ou apenas fugir da realidade. Alguns traumas são capazes de gerar isso em certos indivíduos, e suas sequelas podem ser permanentes. O choque de tais realidades é o que mais empolga no filme, e Laugier conseguiu ser autoral  no grande circuito, sem deixar de chocar. Uma boa experiência.

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Daniel Gustavo

O destino é inexorável.

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