Em Moonlight – Sob a Luz do Luar acompanhamos a vida de um personagem que vive em conflito durante toda a sua vida. A complicada jornada de repressão e auto-descoberta do jovem negro Chiron. Produção ganhadora do Oscar 2017 de Melhor Filme, tendo como seu principal trunfo o debate sobre representatividade em uma perspectiva não tão óbvia.

Convivendo constantemente com o uso de drogas e os vários clientes de sua mãe dentro de casa, Chiron constantemente fugia dessa realidade indo para as ruas, local que também era inóspito para ele. Já na infância Chiron possuía claros problemas de socialização pois sofria conflitos com seu próprio ego e confiança, ele se sentia um peixe fora d’água. Constantemente perseguido pelas outras crianças devido ao seu jeito “diferente”. Em um desses momentos, fugindo de outras crianças que queriam linchá-lo, Chiron conhece Juan (Mahershala Ali) – ganhador do Oscar de Melhor Ator Coadjuvante – um traficante da região, que se comove com a fragilidade da criança, acolhendo-o algumas vezes em sua casa junto de sua companheira Teresa. O casal acaba assumindo a referência de família para Chiron, já que sua mãe estava cada vez mais entregue ao uso de drogas.

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O longa-metragem é praticamente composto por atores negros e hispânicos, explicitando a realidade desses grupos na Miami da década de 90, onde tudo é seccionado. Inclusive o colégio onde Chiron estuda em sua adolescência, claramente para minorias indesejáveis da sociedade. Neste momento da história acontece os grandes momentos de Moonlight. Não só pelo momento de descoberta sexual vivida, mas principalmente pela “máscara” que Chiron decide usar para se proteger nessa realidade violenta e preconceituosa que vive. Com tanta repressão e violência por ser quem é, acaba-se desejando ser outra pessoa. E o mergulho do rosto na pia de gelo é justamente o ritual de vestimenta dessa máscara.

É interessante observarmos que de forma escancarada, e outras vezes de forma sutil, a produção retrata diversos conflitos. Desde o banho depois da experiência sexual de Chiron a, até mesmo, quando Juan flagra a mãe de Chiron, Paula, consumindo drogas e a repreende. Porém Paula responde que compra as drogas dele, e que vai continuar comprando, pois é isso o que um traficante faz. Isto deixa a constatação para o espectador que por mais que Juan tente ajudar o menino, ele ajuda a destruir a sua própria família, num grande círculo vicioso e destrutivo. 

Em Moonlight observamos a intenção de mostrar a evolução de Chiron como pessoa, e isso fica claro com os capítulos que nos são apresentados como os 3 atos do roteiro: Little, Chiron e Black. História baseada na peça ainda inédita In Moonlight Black Boys Look Blue de Tarell Alvin McCraney, e dirigida pelo competente Barry Jenkins de Medicine for Melancholy. Chiron é interpretado por três atores nos diferentes momentos em sua vida (Alex Hibbert/criança; Ashton Sanders/adolescente; Trevante Rhodes/adulto). Cada ato conta uma etapa da vida do protagonista, mostrando o desenvolvimento da personalidade de Chiron: de um menino calado, frágil e desconfiado ao alter-ego de um traficante que esconde sua verdadeira natureza.

Se faz necessário destacar que faltaram alguns desenvolvimentos a mais para não só uma melhor construção, mas também uma melhor identificação do espectador com os personagens e seus dramas. Observo que a proposta de Moonlight é ser mais como um documentário sobre a vida de Chiron do que um romance sobre o mesmo. Podemos observar isto claramente na passagem do primeiro para o segundo ato, quando Juan, o personagem mais cativante até então, sai de cena com a passagem de tempo, sem explorar as emoções que tal momento permitiria. Porém a intensidade e  profundidade da trama conseguem captar o espectador e fazer desses problemas apenas uma vírgula em uma crítica.

Moonlight – Sob a Luz do Luar retrata a difícil realidade de ser uma minoria dentro de outra minoria, e desenvolve como uma personalidade construída em cima de sofrimento e preconceito pode ter sequelas para a vida toda. Talvez não seja o melhor filme do ano mas, com certeza, é uma história necessária para o cinema e para a humanidade. Uma triste história de um excelente filme.

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Daniel Gustavo

O destino é inexorável.

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