Uma forma de avaliar a qualidade de uma obra é através da experiência de leitura que a mesma proporciona aos seus leitores. No caso de O Herdeiro dos Deuses, de Victor Alves, temos a oportunidade de ressignificar o que vimos em O Esquadrão do Fim do Mundo e olhar para seus personagens de uma forma diferente. Esses são apenas alguns detalhes desse encerramento de duologia que mistura elementos de diferentes gêneros literários, como fantasia e ficção cientifica, ao mesmo tempo em que abre portas para novos começos.

Na trama, vemos as consequências do que ocorreu quando o grupo conhecido como O Esquadrão do Fim do Mundo fracassou na tentativa de impedir o fim dos tempos. Ao perceberem que tudo estava perdido, seus membros decidiram executar a mais ousada ideia apenas para ter outra chance de reunir as relíquias divinas e usar seu lendário poder. Assim, adiaram o fim de Hiudren, o que só serviu para lançá-los em uma corrida contra o tempo na qual cada segundo é valioso. Sozinhos, longe da Magna Máquina e do exército de Fahrenir, eles deverão colocar à prova suas qualidades para obter êxito, pois só assim poderão impedir o fim iminente e recuperar a liberdade que lhes foi tomada.

Sem revelar muito, O Herdeiro dos Deuses se diferencia por inicialmente utilizar um recurso narrativo que é bem conhecido de histórias de ficção cientifica. Graças a esse aspecto, o leitor segue a sua leitura paralelamente à uma espécie de releitura do volume anterior como se recebesse o necessário para completar um quebra-cabeça até então inacabado. No entanto, o livro não se apoia totalmente nisso pois o autor concentra a saga do grupo no desafio de encontrar as relíquias com o poder dos deuses vraháricos. Para atingir esse objetivo, eles precisam ir até os templos onde esses itens se encontram e enfrentar poderosos guardiões. Esse tipo de monstro representa uma ameaça muito maior que os caçadores e são responsáveis por forçar os principais combatentes do grupo ao limite, o que rende grandes momento de ação bem descritos pelo autor.

Soma-se a isso o desenvolvimento da relação entre os personagens e a revelação de novas camadas de suas personalidades. Se no primeiro livro, a rixa entre os militares Alister  Droher e Ansur Ross foi algo rápido e pouco significativo aqui a história é totalmente diferente. O curioso é como somos levados a pensar que paradoxalmente eles são lados da mesma moeda e opostos por conta de um pequeno detalhe na relação de ambos com o poder. Esse detalhe nos permite olhar para esses dois de forma diferenciada e perceber que nem tudo é tão claro em um primeiro momento.

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Quem também se sobressai nesse aspecto são as personagens femininas. Em especial, a professora Sophia Gillard e a engenheira Andrea Droher se destacam por serem muito mais do que pensávamos em um primeiro momento. No caso da primeira, pode-se dizer que ela vai além da personagem inteligente que em outras obras seria esquecida por não ser apta ao combate. A importância dela é grande e seu desenvolvimento surpreende de forma admirável. Já Droher também contribui nos combates assim como Alister e Ansur, mas se destaca por seu humor sempre bem-vindo na trama.

– Se conseguirmos impedir o fim do mundo, viremos te buscar – disse Andrea – Caso contrário, não precisa nem esperar por nós – olhares de reprovação – O que foi? Não gostaram da piada? É claro que estou brincando, vamos conseguir. Somos os mocinhos, lembram? “

Em um menor destaque, estão Julius Renner e Valquíria Marshall. Apesar dele ser desde o começo um cara totalmente desprezível e incômodo, ainda há espaço para surpreender positivamente mesmo que não tanto quanto os outros. Em relação a ela, fica a observação de que tem uma função narrativa importante, mas pouco explorada se comparada com as demais mulheres do grupo.

Uma última observação fica por conta das ilustrações de Marcos Silva e do próprio autor do livro. Dessa vez, a escolha dos momentos a serem retratados está bem mais interessante e contribui de forma significativa para ajudar o leitor a imaginar o que está acontecendo. Vale ressaltar que a beleza do traço continua tão boa quanto no volume anterior.

Por esses motivos, O Herdeiro dos Deuses é não só um encerramento digno da duologia de Victor Alves como também um exemplo interessante de desenvolvimento de personagens. Mesmo colocando um ponto final com este livro, o autor deixa espaço para que volte a revisitar esse novo mundo em algum tipo de publicação derivada mostrando que ainda tem muito a ser explorado. Se continuar entregando experiências de leitura como essa, a qualidade com certeza estará garantida. 

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Marcus Alencar

"Palavras importam! Uma morte, uma ondulação e a história mudará em um piscar de olhos"

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