Nos anos 70 ocorreu um grande assassinato no vilarejo de Amityville, onde um jovem matou as irmãs e os pais, alegando que uma voz mandou que ele fizesse isso. Alguns anos depois outra família foi morar na mesma casa e alegou que o local estava amaldiçoado, fugiu do local e nunca recuperou seus pertences. A partir dessa história foi escrito um livro que contava as experiências sobrenaturais que essa segunda família viveu no curto período que morou na casa. Desse livro surgiu o primeiro filme de 1979 que só amplificou o fascínio da população em cima da residência. O evento ficou mundialmente conhecido e até hoje os estudiosos do sobrenatural aponta esse evento específico como uma das provas mais concretas que existem para comprovar a existência de fantasmas. Existe uma fotografia famosa que supostamente seria a evidência de um dos espíritos presos na casa. Em 2005 foi feito um remake do filme original. Já existe toda uma mitologia em torno da casa e diversas teorias para explicar algo que ninguém conseguiu por um ponto final.
Amityville: O Despertar conta a história de uma família que vai morar na casa quarenta anos depois dos casos que a tornaram famosa. Uma mãe, suas duas filhas e seu filho James, que está em estado vegetativo depois de um acidente que sofreu. Quando a família se estabelece na casa o rapaz começa a apresentar melhoras em sua condição, mas a filha mais velha acredita que isso só está acontecendo porque a casa está possuindo o corpo de seu irmão.
A primeira coisa que preciso dizer é que não poderei tecer nenhuma análise sobre a atuação, pois a cabine de imprensa que a equipe do Tarja foi convidada só forneceu uma cópia dublada do filme, logo eu não escutei a voz original dos atores, logo boa parte da atuação deles não pode ser analisada por mim. De qualquer forma, isso não me impede de falar todas as bizarrices que esse roteiro possui. A primeira delas é a premissa básica. A protagonista Belle (interpretada por Bella Thorne), que é a irmã mais velha, não sabe que está morando na casa mal assombrada mais famosa do mundo até que alguém no colégio comenta com ela. Isso poderia ser justificado caso nesse universo do filme nunca houvesse existido livros, outros filmes e todo circo midiático envolta da casa. Mas tudo isso aconteceu. Chega num nível que um dos personagens apresenta à protagonista todos os principais filmes sobre Amityville e até o livro que iniciou toda a fama do local. Eles chegam a se juntar para ver o filme com direito a cenas do filme de 1979 passando dentro desse filme. Só isso já torna um absurdo completo o simples fato da família se mudar para a casa.
O conceito básico até é interessante. Um irmão em estado vegetativo que pode estar sofrendo uma possessão e a mãe acreditando que é um milagre, enquanto a filha insiste que algo está errado. Essa história não precisava de todo o arcabouço de Amityville para acontecer. Outro grande problema é justamente essas duas personagens. A mãe (interpretada por Jennifer Jason Leigh) é completamente histérica e exagerada e Belle é o estereótipo da adolescente emo, revoltada e chata. A segunda irmã é o clichê da criança que ouve vozes e é fofinha, só isso. De longe o melhor personagem é o James (interpretado por Cameron Monaghan) que passa boa parte do filme na cama completamente parado e mudo. Acho que isso já diz muito sobre o filme
As únicas coisas interessantes do longa é justamente a metalinguagem que se faz com os outros filmes, o caso real e o livro. Mas isso fica mais engraçado, como uma espécie de quebra de quarta parede, do que como elemento para compor o filme de terror. O segundo elemento é a ideia do irmão bizarro que começa a despertar e assombrar a casa. Existe também até um potencial para o drama de como ele ficou nesse estado, mas nada disso é bem desenvolvido.
O terror desse filme se baseia quase que exclusivamente em cosias pulando na sua cara seguido de um barulho muito alto. O clássico susto barato que faz você pular na cadeira, mas não gera efetivamente medo algum. Para piorar o roteiro é cheio de absurdos. A forma como os personagens falam uns com os outros, toda cena que parece que faz a história andar na verdade são sequências de sonhos, eventos que ocorrem e são esquecidos, personagens que ignoram informações comprovadamente verdadeiras e contradições de personalidades que destroem toda a lógica do porquê da história estar acontecendo.
No fim esse só pode ser um filme aceitável caso você não conheça nada sobre a mitologia de Amityville e reúna os amigos para ver enquanto bebe uma cerveja e não prestar atenção na história, porque quase nada nela faz sentido. O filme é tão mal montado que ele beira a não fazer sentido. Um fracasso de Franck Khalfoun tanto em sua direção quanto seu roteiro.