O personagem originalmente chamado de Capitão Marvel possui uma história mais do que curiosa. Ele surge na primeira grande febre dos super-heróis causada pelo surgimento do Superman, mas acaba se tornando mais popular do que o personagem que pretendia copiar/se inspirar a ponto da DC iniciar um longo processo na justiça para derrubar a editora Fawcett. Ironicamente a DC compra o personagem depois que sua editora original foi à falência por tentar combater os tribunais e insere o Capitão Marvel em seu universo de super-heróis. Em seguida a Marvel inicia um novo processo já que eles também possuíam um personagem chamado Capitão Marvel, fazendo com que Shazam se tornasse o novo nome do garoto que grita uma palavra mágica e se torna o campeão da magia. Agora ele chega aos cinemas trazendo uma adaptação do arco de histórias “Shazam! Com Uma Palavra Mágica” escrita por Geoff Johns e desenhada (magistramente) por Frank Gary.

Billy Batson é o típico garoto problema que vive de lar adotivo em lar adotivo, sempre fugindo e causando problemas com as autoridades. Quando a assistente social lhe dá um ultimato ele acaba indo morar numa casa com outros sete jovens no intuito de iniciar uma nova família. O que ele não esperava é que um mago ancestral lhe concedesse poderes mágicos inacreditáveis que o tornassem num super-herói e o colocassem em rota de colisão com um vilão que pode causar a destruição do mundo.

Antes de ser um filme de super-herói esse é um filme de comédia, e é importante ter isso em mente. Se você é o tipo de pessoa que fica extremante incomodado com a comédia em filmes desse tipo é melhor passar longe de Shazam. O filme aposta tanto no humor que por vezes ele se esquece do lado heroico da trama, o que acaba sendo o grande conflito que o longa carrega. Em dados momentos ele é uma paródia escrachada do universo de heróis altivos típicos do universo DC, e nesse ponto ele até é bastante bem sucedido. O problema está quando a história tenta criar momentos heroicos, pois simplesmente não conseguimos levá-los a sério devido ao tom pastelão previamente estabelecido. Falta equilíbrio em ser heroico e engraçado e por vezes ele é unicamente engraçado. Se o filme abraçasse a ideia de ser 100% uma paródia talvez tivéssemos uma obra mais sólida.

Zachary Levi é bem sucedido em fazer rir, e entende muito bem o conceito de criança num corpo de adulto, mas quando precisa ser um super-herói fracassa totalmente, o que não chega a ser culpa dele, e sim de um roteiro sem equilíbrio entre esses dois elementos. Os atores mirins se destacam muito bem a ponto de ser a coisa mais cativante na história. Em especial é importante exaltar o trabalho de Jack Dylan Grazer (que já havia mostrado seu talento em It) e Faithe Herman. A direção de David F. Sandberg lida muito bem com atores e com timing, mas é pouco inspirada em cenas de ação, que é o grande calcanhar de aquiles do filme.

É muito difícil não se divertir com o filme, pois além dos personagens serem altamente carismáticos e adoráveis, existe um fascínio inerente no conceito de uma criança que se transforma numa espécie de Superman. De certa forma Shazam trata da fantasia de poder mais pura e juvenil de todas, e sabe tirar ótimas risadas de situações derivadas disso, mas esquece de que existe um potencial engrandecedor e belo nisso. Guardada as devidas proporções é valida a comparação de Shazam com o que foi feito com Deadpool nos cinemas, já que ambos são paródias da mesma temática. Obviamente que Shazam traz a mesma ideia para um público totalmente diferente e tentando, ao mesmo tempo, ser efetivamente aquilo que tenta parodiar. No fim do dia é um filme divertido, mas que tem um potencial adormecido que não é completamente alcançado. Se o diretor e o ator principal conseguirem equilibrar a comédia e o heroísmo (ou simplesmente abraçar exclusivamente a comédia) teremos continuações com possibilidade de ser uma grande referência dentro desse estilo de filme.

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Raul Martins

Autor dos livros Cabeça do Embaixador e Onde os sonhos se realizam

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